DIGNIDADE
O alegado pai da Constituição (vai chamar pai a outro), Dr. Miranda, em boa hora - caso raro -, veio declarar que a falada greve dos juízes era inconstitucional. Não precisava. Ça va de soi. Qualquer cabecita mais ou menos pensante percebe isso. Qualquer teórico do sistema dirá isso, sem precisar de constituição nenhuma.
Os nossos juízes passam a vida a dizer que são independentes, que não devem satisfações a ninguém, que são o máximo, um poder, uma classe aparte. Será assim, mas não no caso deles. Ou mentem quando se colocam em bicos dos pés, ou não têm a noção do lugar que ocupam - ou deviam ocupar - numa sociedade decente. Quando lhes tocam nos interesses são uns tipos como outros quaisquer: sindicalistas, grevistas, quais órgãos de soberania qual carapuça. Com a agravante de querer manter a sua dignidade soberana e dizer que é isso que querem defender. Por muitas razões que tenham (não duvido que os planos da geringonça metam o pé na poça), o direito à greve é coisa que não assiste à soberania ou aos seus titulares.
Passam a vida a dizer que não são funcionários públicos. Terão razão. Então porque se comportam como tal quando acham que lhes convém? Estão escanchados: um pé de um lado outro do outro. Assim, à la carte.
Agora, a situação é esta: mesmo que arrepiem caminho, o mal está feito. O direito ao respeito e à consideração social, como a dignidade, não são coisas que se recuperam de um dia para o outro.
10.6.17