DO ALMIRANTE
Dizem as sondagens, e admitamos que merecem algum crédito, que o famoso almirante do covide é o tipo ideal para se tornar Chefe do Estado.
Vejamos. O almirante era, antes do covide, um desconhecido, tão desconhecido que nem ilustre se lhe podia chamar.
Veio a chamada pandemia e, logo a seguir, ou durante, apareceu uma senhora, tão desconhecida como ele e sem nada de ilustre, mas tristemente célebre de um dia para o outro por cantar a “internacional” no duche. E ainda mais tristemente quando, eventualmente por causa da filosofia da dita cantiga, acabou com pelo menos três hospitais que funcionavam bem e até davam dinheiro e pôs de pantanas o seu bem-amado SNS. Tais feitos, aliados à mais radical incompetência no caso do covide, renderam-lhe formidáveis aplausos do PS (a estupidez não tem asas mas voa...) e levaram-na escada acima até à AR e ao Parlamento Europeu - local onde já se tornou conhecida por várias asneiras e votos de pernas para o ar.
O estatal desespero do governo e do povo levou a que a tropa fosse chamada para tratar do covide. E assim, com todo mérito, o almirante deixou de ser desconhecido e tornou-se uma nacional celebridade. Para além da gestão das chamadas vacinas, passou a herói dos submarinos, entre outros feitos de que já não me lembro.
Não lhe nego tais qualidades. Mas não me ocorreria, até hoje, guindá-lo à chefia do Estado. Aqui bate o ponto. Porquê a preferência das gentes?
Arrisco uma tese. As pessoas vêem os partidos políticos a procurar um dos seus para o cargo. Ou seja, segundo os profissionais da política, o futuro Presidente tem, obrigatoriamente, que ser do PC, do BE, do PS, do PSD, ou até algum cão, desde que filiado no PAN.
Daí que prefiram um cidadão sem ideias ou fidelidades políticas conhecidas, mas publicamente conhecido e apreciado. Alguém que não ameace meter-se no dia-a-dia da política e que represente o Estado com a devida dignidade e a indispensável gravitas.
À mão, só o almirante.
Veja-se o que aconteceu na desgraçada I República. No meio do nacional esterco surgiu o Sidónio Pais, amado pelo povo e odiado pelo esterco que o matou. Chamavam-lhe Presidente-Rei, porque viam nele, bem ou mal, a redignificação do Estado. Na II República, o Presidente passou a ser um militar, mero representante do poder radical de outrem. Na III República, passada a tentada militarização comunista, voltámos aos Presidentes partidários. De notar que um dos mais radicais republicanos do país (Raul Rego), ao procurar o maior elogio possível para Mário Soares, lhe chamou Presidente-Rei.
É isso. Os portugueses, mesmo que inconscientemente, quereriam um Rei. Alguém que “reinasse” fora do dia-adia e das suas guerrilhas. Exemplos não faltam por essa Europa fora, nas melhores democracias do mundo. Aguém que pudesse representar e dignificar o essencial do País.
Fica a tese. Pensem nisto.
16.10.24