DO ESTATAL COMPLICÓMETRO
Sabem os que me lêem que não tenho por hábito referir casos pessoais. No entanto, para o efeito deste post, refiro-me a casos que me têm sucedido e que, para mim, representam a generalidade do que acontece a toda a gente, todos os dias.
Só para dar dois exemplos frescos:
- Dirigi uma carta à CGA em Maio passado. Três meses depois, após perder duas manhãs com o papelinho na mão, fui atendido por uma funcionária a quem perguntei o que era feito da minha carta. A atenta mulher mergulhou no computador e, passados minutos, declarou: “a sua carta está em apreciação”. Perguntada sobre quais seriam as perpectivas para uma resposta, respondeu, prenhe de gozo, que não fazia a menor ideia, nem tinha acesso a tal informação. Perguntada sobre quem a teria, ou com quem deveria falar, respondeu que a ninguém. “Tem que esperar”, declarou, felicíssima. Resultado: 7 meses depois, nada. A carta lá anda, se ainda não foi para o lixo.
- Os rapazes da EMEL aplicaram-me duas multas por estacionamento indevido, em local perfeitamente legal. É que, dois dias depois de eu ter estacionado, puzeram, sem qualquer aviso, que o lugar, a somar às dezenas dos já roubados aos moradores da zona, tinha sido atribuído a “Sharing”, seja lá isso o que for. Peguei nas multas e dirigi-me à EMEL/CML. Depois das horas regulamentares com o papelinho na mão, fui recebido em audiência por uma criatura toda fataça que, perante o caso, declarou: não tenho competência, faça uma exposição por escrito, ou vá ao site das reclamações. Perguntei à fulana para que é que ela servia. Respondeu indignada que “para muita coisa, mas não para isso”. É claro que o tal site é de tal maneira rebuscado que será preciso tirar um Curso de Burocratologia Avançada para conseguir seja o que for, o que garante que a reclamação jamais será atendida.
Milhares de portugueses enfrentam situações deste tipo, todos os dias, a todas as horas. Os funcionários encarregados do “atendimento personalizado” não têm a mais leve sombra autoridade ou competência para resolver seja que situação for que não esteja à mão no computador que as autoridades lhes fornecem. E ficam muito felizes com isso, com as 35 horas e com os aumentos. Chatices é que não!
Algum desses tipos que andam para aí a fazer estatísticas – há-os aos pontapés – poderiam fazer as contas às horas inúteis, perdidas por funcionários e por cidadãos nestas andanças. Serão milhões e milhões. As autoridades, que passam a vida a falar das “pessoas”, desprezam-nas olimpicamente, e com requintes de malvadez.
Uma justa excepção para os funcionários das finanças. Esses têm largas competências para lixar a vida de cada um. O seu gozo é resolver os casos, desde que seja para sacar mais uns cobres. Se for para devolver algum, aí, pague e depois reclame pelas vias administrativas e judiciais disponíveis.
A burocracia “social” terá cura? Não tem. Ficaremos eternamente à espera da “reforma do Estado”, coisa que, até ver, só tem servido para transformar em complicadex aquilo a que chamam simplex.
13.11.19