DO MAU FUNCIONAMENTO DA ESPINHA
O ilustre professor Freitas, jovem oriundo das profundezas do Estado Novo, putativo herdeiro de Marcelo Caetano, adaptou-se, e bem, aos usos, costumes e princípios da democracia liberal. Emérito fundador do CDS, arrostou com a fúria da esquerda totalitária e castrense, conseguindo pôr de pé um partido democrata-cristão. Muito bem. A atmosfera esquerdizante da nossa política, que ainda perdura, acabou por colocar tal partido num imerecido extremo da direita parlamentar. Mas, não havendo outro… que remédio. Mais tarde, representou a direita e o centro numa candidatura presidencial que havia de soçobrar à segunda volta, após uma histórica saraivada de soezes insinuações e de insultos que o seu rival, Mário Soares, não teve pejo em roncar. Não falo aqui dos tempos da AD, guardando-os para outra altura.
A dinâmica da candidatura presidencial perdeu-se rapidamente. O professor encetou então uma longa, mas rápida, viagem. Começou, perante o espanto e a indignação dos que nele tinham acreditado, por transformar Soares num amigo do peito, um íntimo, um farol. Depois, entre muitas outras etapas, levou à cena uma peça sobre Caetano que, pela indignidade, causou arrepios a toda a gente, à direita e à esquerda. A viagem prosseguiu, tomando velocidade de cruzeiro com inúmeros episódios que não valerá a pena referir. Até que viemos dar com ele no governo socialista do senhor Pinto de Sousa. Parece que o facto de ter criado o CDS o convenceu de que lhe era legítimo assassiná-lo e, de caminho, o PSD. Não o conseguiu, nem conseguirá, espero.
Mas continua a fazer os possíveis. Em mais uma palinódia televisiva veio declarar que o ano de 2016 acabou muito bem, que é só boas notícias e que qualquer pessoa com “um mínimo de patriotismo” “não pode deixar de (as) reconhecer”: (aqui, descobri que não sou patriota, nem minimamente). A TSU foi uma “ferida” nas partes da coligação, já que o PSD “vendeu a alma ao diabo”, uma vez que quer eleições antecipadas(!!!???), que perderá. O PSD “não separa questões menores do que é o interesse do país”. O PC eo BE, esses são coerentes e devem continuar a sê-lo, com o cuidado, é claro, de "esticar sem quebrar", já que a continuidade da geringonça é indispensável. Esperançoso, informa a plebe que o acordo das esquerdas está longe de estar esgotado, porque há “mais temas para a convergência de esquerda”, o que nos dá a ideia do “patriotismo” do homem. E, ó bem-aventurança, o PS sobe nas sondagens!
E muito mais disse, tudo assaz esclarecedor sobre a viagem da criatura, sem tormentos nem escolhos. E sem escrúpulos. Não há ortopedista que valha a tal espinha.
4.2.17