DO MEDO
Se eu achasse que o nosso governo serve para alguma coisa, diria que tal organização já devia ter percebido que a solução do “estado de emergência” é capaz de não ser a solução. Por um lado, acabou a liberdade, a polícia é mandada perseguir quem mais não quer que ir dar uma voltinha. Por outro, a economia entrou em quarentena, ninguém é capaz de, sequer, imaginnar as consequências da paralisia social e laboral em somos levados a viver. É evidente que não há medidas dos governos que possam funcionar sine die para compensar o descalabro dos que são privados de rendimento. Todos somos privados de rendimento, uns já, outros a curto prazo. O Estado também, sem rendimento não há impostos, sem impostos não há saúde, nem educação, nem segurança social, nem segurança tout court. O Estado, tantas e tantas vezes tão justamente acusado de se meter onde não é chamado, vai atirando dinheiro à cara das pessoas (quantas, quem, como?) verá o dinheiro acabar, e será o caos que já é multiplicado por n.
Há muito quem esteja a ver um bocadinho mais longe que o Estado que temos. Há muito quem veja as estatísticas e o que elas mudaram, coisa que o Estado se recusa a ver. Mudaram tanto quanto diz o governo? É claro que não, não são tão assutadoramente diferentes do que na meia dúzia dos últimos anos. Pelo menos no que diz respeito aos óbitos, ora atribuídos, todos, ao vírus. Então porque será tão útil e tão indispensável a paralisia geral decretada com foros de guerra à liberdade?
O medo é mais contagioso que o vírus. Não será essa a mais perigosa das epidemias? O turismo acabou, mas tudo o resto também tem que acabar?
Começa a haver reacções violentas, em Itália e Espanha já as há, e vai haver muitas mais, e mais graves. Valerá a pena? O medo começa a ter consequências, já há quem não tenha que comer, quem não tenha pão para dar aos filhos. Valerá a pena?
Há sítios, como a Suécia, onde se tenta ultrapassar o medo, onde ainda se trabalha e se estuda, onde só se proteje quem precisa mesmo de ser protegido. Nos países do medo quem precisa de mais protecção não a tem, os hospitais abarrotam de constipados e engripados, com vírus ou sem ele. Será sustentável? Que Estado, que sociedade resiste a isto duravelmente sem colapsar?
Tudo questões que nos vamos pondo, sem resposta certa mas com certíssimas inquietações, sendo que a mais grave é a que me faz perguntar: como acabar com o medo se ele é instilado todos os dias na cabeça de cada um, sem remédio nem esperança?
30.3.20