DOS ESTATIZADORES
Fiquei estarrecido, ainda que não surpreendido, com a inconsciência, a lata, a cegueira, a burrice de um dos novos “estrelos” do PC (ignoro o respectivo nome) que tive o desprazer de ver na televisão. Fazendo jus a um brilhantismo intelectual que não deixa lugar a dúvidas lá no partido, o indivíduo declarava que o grande mal da democracia e do sistema financeiro é causado pela reprivatização dos bancos depois da sua patriótica nacionalização operada pelo PC e seus apaniguados militares em 1975.
A argumentação é sempre a mesma, o que é do Estado é nosso, é de todos (esquece-se de dizer que, se é de todos, não é de ninguém) e que, se tivesse gestão pública, tudo correria pelo melhor: actualmente, está tudo na mão de tubarões, tudo politizado, ou dominado pelos partidos ou dominando-os, etc. Esquece-se de que, se estivesse nas mãos do Estado, ninguém, na banca, escapava, por pouco que fosse, à sua politização: seria obrigatória e sistemática. Não é por acaso que nunca houve sistemas bancários totalmente estatizados que não se tivessem afundado, como são exemplo todos os casos que a história registou e continua a registar. Acresce que, em caso algum, o sistema estatizado se fundou sem sacrifício das liberdades, da democracia e dos valores fundamentais da política. Mas isso, para o intelectual do nacional-bolchevismo, não tem importância. A democracia defende-se enquanto convém, isto é, enquanto der direito de cidade aos seus inimigos e enquanto não conseguirem aniquilá-la .
Por cá, se temos tido problemas graves e de várias naturezas com bancos privados, o sacrossanto banco público não está melhor que os piores dos privados: não é “resolvido” porque é do Estado, mas a sua evidente falência está à vista de todos e, mesmo sem ir à contabilidade orçamental (filosofia socratista de consequências conhecidas), não deixará de custar uns milhares de milhões aos indígenas.
Mas alegrem-se, ou assustem-se. Na mesma noite, farto do “raciocínio” do palhaço, mudei de canal. Há mais dois, como é sabido, dos de notícias, que são os que vejo, a não ser quando há intelectuais da bola a leccionar. Num, perorava a dona Marisa Matias, toda produzida, como convém à esquerda populista e bem instalada. Noutro, ó maravilha, deleitava-nos com as suas opiniões o chefe do nacinal-trotsquismo, camarada Louçã. Um e outro sem contraditório, respeitosamente interrogados por jornalistas servis e “independentes”.
É nisto que vivemos. Serviço público e comunicação socialistas.
4.3.17