EFICÁCIA!
Ouvi ontem uma declaração daquele senhor conhecido por ministro da ambiente que me deixou verdadeiramente às aranhas.
No que respeita às espumas do Tejo, começou o douto orador por dizer que eram sobretudo causadas pela seca, ou seja, que a diminuição do caudal baixava a capacidade de regeneração das águas. Assim, para quem achava que a coisa se devia a descargas de dejectos industriais, o melhor é não pensar nisso. A maior das culpas cabe ao São Pedro, à Santa Bárbara bemdita e, quem sabe, parcialmente, a alguns despejos industriais.
Apesar disso, o mui preocupado e dito ministro, mostrando a alta autoridade que lhe assiste, decretou que as unidades industriais a quem, eventualmente, se poderia vir a atribuir uma ínfima parte das inocentes espuminhas, ficariam a trabalhar a cinquenta por cento nos próximos dez dias. Trata-se de uma medida de grande alcance, permitindo concluir que, ou o São Pedro e a Santa Bárbara tomam conta do assunto nos próximos dez dias e as água sobem, ou voltaremos à vaca fria.
Finalmente, hossana!, sua excelência acrescentou que iria mandar analisar as espumas e que, dentro da algumas semanas, seria possível identificar a natureza e a origem do acontecido. E também, diga-se em abono da verdade e com humilde reconhecimento, que o impecável governante descansou as hostes dizendo que ia providenciar para a recolha dos produtos ora a banhos nas águas do Tejo.
Há mais de trinta anos, os contumazes poluidores do Tejo foram obrigados a instalar equipamentos destinados a tratar os resíduos e a “limpar” o cheirete que provocam. Que eu saiba, instalou-se umas coisas e o Estado foi vigiando a sua utilização. Mas estas tarefas são chatas, cansam, e parece que a vigilância durou pouco.
Ainda bem que veio a geringonça pôr as coisas no são. A partir de agora, mercê da invejável acção das autortidades, o São Pedro foi metido na ordem, os “alegados” poluidores serão autorizados a poluir, durante dez dias!, mas só metade do que poluiam antes e, daqui uns tempos, recolhidos alguns materiais e feita a respectiva análise, partir-se-á, eventualmente, para a tomada de medidas adequadas ao caso.
Somos tão felizes!
27.1.18