ELE HÁ COISAS...
É claro como a água das nascentes que o Brasil está entalado entre duas opções, cada uma pior que a outra.
A opinião pública, causticada pela galopante insegurança, pela corrupção (que sempre houve, mas que o PT levou a extremos nunca vistos), pela degradação económica e social que pôs no lixo a obra de Fernando Henrique Cardoso – e, até certo ponto, o trabalho inicial de Luís Inácio da Silva - e que dona Dilma levou ao total fracasso, deixou de acreditar no sistema, na moderação, nas ideias centristas, liberais e democráticas.
É um tudo ou nada, entre duas diabólicas opções. Uma tirania de direita, outra de esquerda, estão à vista.
Daí que, fora do Brasil, as opiniões sigam os acontecimentos com inquietação, opiniões, independentes umas, interessadas outras. Por cá uma só opinião vigora, a do sonho esquerdista, cheio de ódio a Pinochets e a Orbans, mas suavemente comprometida com Castros e Maduros.
Daí que se assista ao ridículo das deputadas que fazem manifestações e das “tomadas de posição” de intelectuais e artistas de várias quintas, todos unidos no mesmo terror a Bolsonaro. Terão razão, mas deviam, primeiro, ver-se ao espelho e meter a viola no saco.
Ainda ontem, com a prestimosa cooperação da señora Saramago, inimiga, pendura e "okupa" de Portugal, os senhores Freitas do Amaral e Francisco Louçã uniram-se num texto catastrofista, ainda que com alguma razão. A associação de Freitas do Amaral ao trio não é de estranhar, o homem alia-se a quem lhe der guarida e, em busca de credibilidade, dele se serve – ainda que o homem, catavento profissional, já não dê credibilidade seja a quem for ou ao que for. A presença da espanhola, que é metediça em política portuguesa e segue o exemplo, bem pago, do seu falecido e soviético compañero, é só mais uma manifestação de “curiosidade internacional” e de exibição pública, também não causando estranheza. O mais extraordinário disto tudo é a lata do senhor Louçã: a um socialista revolucionário, que apoia todas as ditaduras desde que sejam de esquerda, inimigo feroz de todas as instituições que defendem a democracia liberal e o capitalismo, estatizador implacável, que direito ou que consciência assistem para que se assuste com a ameaça da extrema-direita brasileira, como se, substancialmente, as tiranias de um lado ou de outro não fossem da mesma natureza, sobretudo em termos de (ausência) de liberdade e de direitos pessoais?
15.10.18