ELEITORALISMOS
É costume acusar os governos de eleitoralismo quando tomam alguma medida “boa” em ano de eleições. Umas vezes, tais acusações são justas – por exemplo, o aumento dos funcionários feito contra todo e qualquer bom senso, sentido de Estado ou noção das responsabilidades, pelo nosso coveiro, um tal Pinto de Sousa, dito Sócrates -, outras não o serão, ou são elas próprias mero eleitoralismo ou oportunidade “informativa”.
Desta vez, o “Expresso” dá-nos uma manchete em que informa que o governo vai baixar o preço da energia a um milhão e quinhentos mil portugueses (quinhentas mil famílias) e, simultaneamente, aumentar o preço aos demais. Na primeira página, e em mais meia dúzia de ocasiões o jornal acrescenta “em ano de eleições”.
É a campanha a começar. Só não se percebe como é que um jornal dito “independente” há-de entrar nela, ainda por cima de tão canhestra forma. Como é possível considerar eleitoralista uma medida que alivia 15% da população e castiga 85%?
A inteligência falha muitas vezes, até àqueles que se acham inteligentes mas são vencidos pela dose de esperteza saloia de que não conseguem libertar-se. Em alternativa, a partidarite tolda-lhes o raciocínio.
Dando aos “expressivos” jornalistas o benefício da dúvida, imaginemos o que o seu alto pensamento deve ter parido: se os beneficiados são os mais pobres, como os mais pobres são burros, não contam, o que conta são os eleitores saídos dos outros 850.000. Percebem a lógica? Eu também não, porque não há nisto lógica de espécie nenhum, só verrina, e da estúpida.
26 .4.14
António Borges de Carvalho