ELOGIO
A contrariar os que, com uma certa razão, acusam o IRRITADO de só dizer mal, vai hoje elogiar uma pessoa de cuja existência não suspeitava e cujo desassombro é, pelo menos, raro. Não era um tipo qualquer nem fazia parte dos que, em quantidades industriais, vêm dando cabo da nossa cabeça acerca do covide.
Trata-se de um médico, professor, vice-reitor de uma Universidade – julgo que a de Lisboa – que, com irrefutável lógica e conhecimento de causa, sem levantar a voz nem se meter em considerações políticas, destapou uma série de espantalhos que, com crescente vozearia, se ocupam dos assuntos da sua profissão. Não, não veio falar do covide, não se entreteve a elogiar ou a condenar as “autoridades” em tal matéria. Falou de uma coisa que, depois de, durante anos, ter sido abandonada e entregue a ideólogos de pacotilha (as palavras são minhas), com falta de dinheiro ou com dinheiro mas sem reformas nem gestão apropriada – o dinheiro é capaz de não ser o mais importante - continua mergulhada numa infindável crise: o Serviço Nacional de Saúde.
É que, enquanto os portugueses são levados, sob inqualificável pressão, a pensar, ou aceitar, que tudo funciona como deve ser, a verdade é que, tirada a questão de epidemia, tudo continua a funcionar demasiado mal. As pessoas, sem qualquer informação credível a tal respeito, fogem dos hospitais com medo da gripe, das infecções hosptilares, dos contactos com gente infectada. As cirurgias estão em lista de espera, há doentes graves ao abandono, não há consultas, tudo isto enquanto os políticos se entretêm com a peregrina luta ideológica que põe o público contra o privado e o social, em vez de procurar formas de intregração que proporcionem o alargar da oferta de serviços e o respeito pelas as liberdades dos cidadãos.
Tudo isto foi dito de forma calma, cortês, lógica, sem preconceitos nem politiquices. O IRRITADO não tem, nem os conhecimentos nem a civilizadíssima verve do Senhor que elogia, mas congratula-se pela forma e pelo conteúdo do que lhe ouviu dizer.
Isto, sem prejuízo de temer que, dada a evidente “incorrecção” do que afirmou, venha tal senhor a ter os maiores aborrecimentos.
28.5.20