ELOGIO FÚNEBRE
Como é hábito em relação aos mortos, tem-se visto por aí os mais altos encómios à emérita figura de Veiga Simão. Não há cão nem gato que não gabe a sua passagem directa do poder autoritário para o democrático, em viagem de longo curso até ao PS. Cada um é livre de viajar para onde entende, competindo a quem o recebe ajuizar da genuinidade da viagem.
Adiante. A reforma do ensino que terá feito, ou tentado, durante o marcelismo, tornou-se alto serviço à Pátria de um momento para o outro. Talvez fosse. Compreenda que a sua gloriosa memória tenha, subitamente, emergido em inúmeras cabeças tidas por pensantes.
O IRRITADO não se pronuncia sobre reformas do ensino, cuja quantidade é de tal maneira grande e tão folcloricamente rebuscada, se não ridícula, que escapa a qualquer juízo.
Mas recorda aquilo por que era conhecido, ao tempo, o Professor Veiga Simão: o homem que introduziu os “gorilas” nas faculdades. Não contente com a habitual vigilância da PIDE através de contínuos, funcionários e até estudantes e docentes, resolveu torná-la mais “próxima”, mais “eficaz”, através da contratação e/ou colocação dos tais “gorilas” nos corredores das faculdades.
Mudada a nora, ei-lo no governo provisório! Diz-se que foi a Maçonaria que lá o colocou. É capaz disso. Não foi o único maçon que, sendo figura do regime (havia-os, e muitos, por lá), emigrou, passando, na boca de outros maçons, a ter sido sempre um democrata da mais fina cepa.
O IRRITADO reconhece que o senhor era um tipo inteligente, até bem intencionado, que, é de pensar, acreditou na primavera marecelista, que fosse pessoa séria, que tenha tido um papel importante na Universidade de Lourenço Marques, etc..
Mas acha que os pormenores acima citados deviam, post mortem, fazer parte do seu currículo.
5.5.14
António Borges de Carvalho