EMPREITADAS
Quem olha para as faraónicas obras em curso no chamado “eixo central” de Lisboa não pode deixar de se interrogar sobre qual será a lógica que preside às absurdas decisões do senhor Medina.
As pessoas continuam, cidade fora, a tropeçar e os velhos a estampar-se nos buracos dos passeios, continuam a dar cabo dos carros em ruas que não passam de mares de buracos, a dar pontapés em pedras soltas, a torcer os pés e a espetar-se no miserável estado dos passeios, a enojar-se com a negrura porcalhona das pedras das calçadas pedonais que há anos sem conta não são limpas, a suportar o cheiro nauseabundo das sarjetas cheias de fétidas bolhas de ar, a ter prejuízos com inundações devidas ao péssimo estado do saneamento, a olhar o lixo espalhado por todos os lados num inominável descuido. Etc., etc..
Perante este cenário, o que faz a CML? Lança obras de milhões para reduzir a circulação e o estacionamento, avança, com argumentos que nada têm a ver com os interesses dos munícipes, com re-desenhos viários cuja única utilidade visível será a de dar boas facturas a receber pelos respectivos empreiteiros.
Qual será, afinal, o critério que preside às inacreditáveis decisões do senhor Medina e da sua gente? Quem saberá responder? Eu não, nem, por razões de higiene, quero imaginar qual seja.
Hoje, em conferência de imprensa, o senhor Medina veio lançar alguma luz sobre a questão. Com nobres argumentos, como o da “transparência”, o dos conflitos de interesses, o do "respeito pelos dinheiros públicos", etc., anunciou a anulação do concurso para as tresloucadas obras da 2ª Circular. Um alívio para todos nós.
Esperem! Anulado o concurso, o espantoso autarca informa que vai fazer, já, o que “se impõe”: pavimentar, iluminar, sinalizar, etc. Muito bem! Muito bem, se não anunciasse logo a seguir que, esclarecidos os problemas do concurso anulado, lançaria outro com o mesmo caderno de encargos. A coisa fica adiada, mas continua como dantes.
Conclusão, o homem duplica as obras. Para já, faz as que são, segundo ele, necessárias, sendo de admitir que o sejam. Logo a seguir, novo concurso. As obras necessárias são para demolir em breve, a fim de se executar, então, o extraordinário “plano” que prevê trânsito mais rápido com menos velocidade e menos faixas de rodagem, ou seja, a verdadeira e genial realização da quadratura do círculo que consagrará Lisboa como capital da mais absurda modernidade.
Depois queixem-se que haja quem alvitre que tudo não passa de negócios de empreitadas e empreiteiros.
2.8.16