ENCRAVINHADOS
O abominável João Cravinho deixou-nos uma herança de respeito. Por obra sua foram criadas as chamadas SCUTs, coisa que, muito mais tarde, se concluiu ser um encravanço dos diabos, de tal maneira que até o socrapifiosismo percebeu. Os cálculos estavam errados, o “milagre” não se deu e, à monumental desgraça que o PS ia, paulatinamente, criando, veio juntar-se o resultado da brilhante ideia do Cravinho, de tal maneira que até acabaram com ela. Para compensar, “alguém” aproveitou para inventar um sistema de portagens, caríssimo e ineficaz, que não cabe na cabeça do mais pintado. Um partido que se diz amigo de quem trabalha arranjou maneira de não criar mais uns empregos. Mas isto é pormenor.
Cravinho é um tipo generoso. Daí que, fazendo a privatização da TAP parte da política socialista do tempo (hoje, o PS é contra, e sabe-se porquê – trata-se, à outrance, de profissionalismo oposicionista), o Cravinho, para adoçar a insaciável bocarra dos pilotos, prometeu dar-lhes uma comissão no negócio, ou seja, ofereceu-lhes uma incrível “sociedade”. Coisa de privilégio, porque os ditos esfomeados foram considerados mais iguais que os restantes empregados da companhia (mais um interessante pormenor da justiça socialista).
Depois de muita guerra, de muitos prejuízos causados à casa, os fiéis pilotos, gente, coitadinha, muito mal paga como é do conhecimento popular, estão agora a dar largas à sua permanente e suculenta indignação. Depois de assinado um acordo em que não constavam nem aumentos de ordenado nem “sociedade”, vêm exigir aumentos (7,5%!) e sociedade - coisa que, além do mais, seria ilegal e inconstitucional, como é evidente e está provado e julgado. Para dar força às suas legítimas preocupações, esta distinta e tão maltratada classe não teve outra solução senão a de decretar 10 dias de greve. Devidamente avisados e plenamente conscientes de que tal greve vai custar uns 70 milhões, põe em causa a privatização e contribui para acabar com a TAP - o que quer dizer que, mais cedo ou mais tarde, nos põe a pagar mais um portentoso buraco - mantêm a sua “justa luta”.
É possível que, entre os pilotos, haja gente séria. Como classe, porém, não passam de um gang, como é timbre dos “colectivos”. Uma triste evidência, que nos encravinha ainda mais do que já estávamos.
No meio desta ominosa história, uma coisa há que não se percebe: a atitude titubeante do governo. A requisição civil dos pilotos já devia ter sido decretada e garantida, o mal já devia ter sido cortado pela raiz. Não foi. De que estão à espera?
17.4.15