ENGANADOS OU DISTRAÍDOS?
Há dias, num almoço de amigos, veio à baila a geringonça, as suas origens, o que esteve por trás da sua fundação. E, entre gente que, teoricamente, gosta tanto dela como eu, apareceram vários a alegar a irrepreensível democraticidade da coisa. Assim: na Europa civilizada quase não há maiorias absolutas, os governos ou são de coligação ou vivem apoiados por partidos minoritários. Se formam maioria parlamentar, são legítimos.
Formalmente, é assim. Só que preciso será ir um bocadinho mais longe.
Na tal Europa não há partidos de governo que sejam de extrema direita, nem partidos de coligação que andem a comemorar este ano a revolução russa, o leninismo, o estalinismo e outras “realizações”(como acontece com o nosso PC). Na tal Europa, há valores cujo não respeito deixa tal gente a falar sozinha, não há partidos democráticos que se sujem como o PS se sujou.
Vem a seguir o mais falso de todos os argumentos. Como o partido mais votado não foi capaz de apresentar à indigitação uma solução parlamentarmente viável, o governo foi entregue a quem de tal foi capaz. Mentira. O partido mais votado ofereceu ao partido número dois uma proposta, ou de fazer parte do governo, ou de subscrever uma solução negociada que desse lhe estabilidade formal. O partido número dois, cujo “candidato a primeiro-ministro” perdeu as eleições, recusou terminantemente qualquer das soluções, preferindo recorrer a forças minoritárias e antidemocráticas de extrema esquerda para chegar ao poder.
Isso é legítmo? A legitimidade política só tem a ver com maiorias parlamentares, ou tem também a ver com as regras básicas que informam os sistemas democráticos?
Daí que, desta modesta tribuna, eu diga aos meus amigos que se deixem da ilusórios formalismos, que deixem de “compreender” uma solução que, em si, e por mais propaganda que faça, jamais poderá deixar de ser funesta, para o regime, para a liberdade e para tudo o mais. Nasceu torta, só pode entortar ainda mais.
Como, aliás, cada dia vai estando mais à vista, por muito que os seus serventuários mediáticos lhe sirvam se capacho, ou que Sua Excelência a sustente com afectos.
29.6.17