ENGANOS
Aqui há tempos, dizia-me um tipo que tem uma oficina de automóveis: “calcule você que a minha filha se licenciou em psicologia há um ano e que, até agora, só arranjou lugares de babysitter!”
Pois é, o homem estava indignado. Tinha pago um curso superior a uma filha, rapariga inteligentíssima e estudante aplicada, para a ver a ganhar uns tostões miseráveis, precários e à hora! Uma “doutora”, imagine-se! Carradas de razão.
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Segundo a imprensa de ontem, foram abertos pelo Estado 40 vagas para psicólogos e outras tantas para nutricionistas. Concorreram a tais lugares 2849 psicólogos e 1082 nutricionistas.
Muito diz isto sobre o estado do ensino superior, há longos anos “vendido” às pessoas como qualificação para emprego, sobre a elevação de certos cursos à categoria da licenciatura, sobre a catadupa de ilusões que se têm atirado à cara das pessoas sem qualquer correspodência com o mercado de trabalho, existente ou previsível. Veja-se no que deu o abandono do ensino profissional, inculcado na cabeça de cada um como “inferior” (mesmo que dando a cesso a outros voos), sob uma espécie de oficial desprezo, ainda que mais eficazes na sua relação com a procura.
Onde irão o Estado e as empresas meter os cerca de 4.000 licenciados que ficaram de fora das escolhas? Em parte nenhuma. Se calhar, se fizessem alguma coisa útil e necessária, tinham emprego. Mas foram enganados pelo Estado todo poderoso, mais interessado em estatísticas para a “Europa” ver do que na economia do país.
O resultado é que há um número aterrador de jóvens enganados que não sabem como hão de descalçar a bota que lhes meteram no pé.
3.1.19