ESCOLHER AS VERDADES
O chamado Império Colonial Português começou, como se sabe, no século XV (1415), e viu-se acabado no fim do segundo quartel do século XX (1975). Durou 560 anos, ou 584 se incluirmos Macau – que não fazia parte do conceito, mas isso não vem ao caso. Foi tarefa de dezenas de gerações. No fim do século XIX atingiu o seu auge em termos ideológicos ao ser transformado em arma de arremesso do nacionalismo imperial dos republicanos contra as fraquezas da Monarquia. Nada foi, em Portugal, tão imperialista como a primeira República.
A segunda República, neste como noutros aspectos, seguiu os passos da primeira. O Império não se discutia, mesmo muito depois de outros já o teram feito e de os chamados “ventos da história” o terem condenado. A Europa mergulhara em nova moral política, mais uma vez de carácter nacionalista, só que ora aplicado, não aos países imperiais mas aos seus territórios ultramarinos, subitamente transformados em nações. A segunda República não soube compreender o que se passava e meteu-se em lutas que os tempos tinham passado a condenar. Mas não pode dizer-se que uma constante histórica com 560 anos fosse uma invenção do “fascismo”, como é voz corrente na “historigrafia” dos nossos dias.
Tal “historiografia” impõe que se transforme as campanhas do ultramar em mares de crueldade, de massacres, de desumanidade, de assassínios, violações, de bombas de napalm e de mais toda a parafernália de crimes que imaginar se possa. É esse o ponto de vista de mais um escritor (João Céu e Silva) hoje propagandeado no Diário de Notícias, propriedade do seu patrão. O senhor Céu, diz ele, andou à cata de “testemunhos”, todos, ao que parece, destinados a confirmar as teses criminais.
Como passei 27 meses (1964/1967) em Angola, naquilo a que se chamava ZIN, Zona de Intervenção Norte, “de especial pericolosidade” (a Pátria reconhece-o pagando-me 150 euros por ano!), sinto-me no direito de testemunhar exactamente o contrário das “teses” do senhor Céu. Conheci bastante de tal zona, de Sazaire ao Tomboco, do Tomboco ao Quelo, do Quelo a Nóqui e à Benza, passei por Nambuangongo e por Zala, e bastante mais. O que posso dizer, sem pretensões à propaganda de que o senhor Céu é objecto, é que, “espremidas” as coisas, a presença das tropas portuguesas nessas paragens foi uma lição de humanidade, de convivência e de protecção das populações. A tropa proporcinava assistência médica a gentes até então “tratadas” por feiticeiros, levava o médico a dezenas de quilómetros por terríveis e inseguras picadas se tivesse notícia de um parto eminente ou de uma apendicite, em muitos locais ensinava a ler e a escrever, transportava produtos locais para o comércio geral, dava emprego a quem nem sabia o que isso era e, para além disso, mantinha em segurança gentes atónitas, entaladas por hordas de “nacionalistas” que pouco entendiam. A tropa era bem recebida nas sanzalas, dava-se com as autoridades tribais, protegia missões, criava amigos.
Tudo isto foi o pano de fundo desses 27 meses, ou seja, a verdade dos factos. Tudo ao contrário do que querem as tremendas bojardas, ilegitimamente generalizadas, com que os escritores ganham a vida e que me apraz condenar.
Tenho dito.
9.7.15