ESTÁ BEM? DESTRUA-SE!
A senda é conhecida e praticada, quase religiosamente.
Passado um século sobre a destruição e a desertificação humana das cidades, lá se legislou sobre o tristemente célebre bloqueamento das rendas, sobre a liberdade contratual das pessoas, o (relativo) respeito pelo constitucional direito à propriedade privada. Em meia dúzia de anos, as cidades ganharam nova face, milhares de prédios em estado de ruina regressaram a ceitáveis níveis de qualidade, tudo a provar que, em benefício de todos (Estado, particulares, senhorios e inquilinos) havia energias sociais garrotadas que regressavam à vida depois de anos e anos de abandono.
Veio a geringonça. Anuncia-se o fim do sistema, a “reforma” do RAU, do NRAU, etc., de forma a consolar ideólogos e ideologias, cujos resultados, cá e pelo mundo fora, sempre resultaram em miséria, das pessoas e dos Estados.
O turismo ressuscitou em resultado do aumento da procura e de alguma liberdade cívica. Com ele os arrendamentos turísticos, a procura externa, a entrada de milhões. Porém... com a geringonça, há que acabar com o movimento. Os tuktuk são uma desgraça. É preciso dar cabo do alojamento local, criar regras e regrinhas, sacar mais dinheirinho ao mercado, dificultar, anquilosar, perder o conquistado, dominar os arranques e as iniciativas da sociedade civil. Os turistas passaram a incómodos invasores, há que “limitar” os que aproveitam com ele, desincentivar o investimento externo, criar mais burocracia, cortar as pernas à coisa, como a tudo o que signifique liberdade, a tudo o que mexa.
(Um dos mais lídimos adeptos da geringonça, célebre por um dia ter pedido à CML que apressasse o “feixo” da CRIL - rapaz culto, maçon e socialista - quer proibir os tuktuks lá do bairro e mandar fechar o comércio mais cedo, a fim de que tudo fique mais silencioso, e mais pobre).
Nos transportes públicos via-se uma luzinha ao fundo do túnel. Veio a geringonça. Destrua-se. Municipalize-se. Estatize-se. Se correr mal, como corre, é “azar”, como decreta um tipo que se diz ministro. Vai haver indemnizações aos prejudicados? Lança-se mais um imposto para pagar a bronca. O socialismo paga-se, pelo menos até acabar o dinheiro emprestado.
A água está cara? Está. O remédio, como vem sendo anunciado, é aumentar o preço. A geringonça não brinca em serviço.
A chamada “restauração” queixa-se do IVA a 23%. Abra-se uma excepção, passe a 13. Os preços da restauração sobem três vezes mais que a inflacção em geral, a demonstrar as consequências da genial medida. Não interessa, há quem pague.
Há petróleo na costa? No mar? Faça-se a respectiva “interrupção voluntária” da procura. As exportações de produtos petrolíferos são fulcrais na balança externa, ainda que trabalhem com matéria prima importada a cem por cento. Passar a ter matéria prima nacional? Que disparate! Cancele-se os contratos. Um porque a outra parte se esqueceu de incluir um papel, mesmo que já tenha passado o prazo para reclamar. Os outros não se sabe ainda porquê. Que importa? Pague-se as indemnizações que os tribunais arbitrais não deixaram de exigir. O socialismo é honesto, desde que as pessoas o paguem. A Noruega (país impecável em matéria ambiental), à custa do petróleo, tem as maiores reservas financeiras da Europa, e das maiores do mundo. Que interessa? Petróleo no Algarve é que não, mesmo que não tenha qualquer influência na qualidade de vida das pessoas. A Escócia queria ser independente para ficar com o petrólio do Reino Unido. Que estupidez! A gringonça é que é inteligente.
A ADSE estava a correr bem? Estava. Até dava lucro, os seus beneficiários, que bem a pagam, não tinham razão de queixa. Acabe-se com isso. Crie-se um “conselho geral”: 15 marmanjos de alto coturno se sentarão á volta da mesa para vigiar a direcção e ganhar, pelo menos, umas senhas. Os sindicatos rejubilam com novos tachinhos! Dar-se-á à coisa o sonante nome de “instituto público de gestão participada”. Lindo: o social-complicómetro no seu esplendor. Dou-lhe três anos até ir à falência. Não fará mal, lança-se uma taxa qualquer, e pronto.
Mas nem tudo é mau. Por exemplo, as criancinhas de 10 anos vão ser ensinadas pelo Estado a fazer abortos. Progresso é o progresso, raio!
15.12.16