ESTATISMO PIROSOTÉCNICO
Para além das múltiplas desgraças que os fogos vêm causando, outras nos assaltam, despercebidas enquanto tal. São elas as centenas de declarações de políticos, técnicos, comentadores abalizados, tipos descobertos à última da hora, todos sem excepção a abarrotar de soluções, as mesmas de sempre, de sugestões obsoletas, de velhíssimas ideias, num nunca acabar de palavreado já mil vezes repetido.
O poder também se manifesta. Desta vez, a dona não sei quê Urbano de Sousa foi encarregada da solução ideológica. Assim: se há terras abandonadas, saquem-se as terras aos proprietários, e pronto. Genial. A cartilha bolchevista tem remédios para tudo. Isso de ordenamento, que se lixe. Obrigar à prevenção, nem pensar. Castigar quem prevarica, quem não cumpre, quem aumenta os riscos por negligência, que disparate. A solução é sacar a propriedade e entregá-la à esfera pública, Estado, municípios, “comunidades”. Por outras palavras, atacar o que é privado, alargar a propriedade pública, usar a cartilha do PC e do BE, ora adoptada pelo PS, como muito bem é hoje sublinhado num artigo de António Barreto.
Talvez alguém pudesse esclarecer a senhora – ou o chamado governo – sobre o facto de as entidades públicas “salvadoras” já terem à sua conta milhares e milhares de hectares, tão maltratados como os dos mais negligentes proprietários. Talvez também pudessem fazer ver à senhora que as florestas menos atacadas pelos fogos são do domínio privado de particulares ou de empresas responsáveis e úteis.
Devo estar enganado. Bem vistas as coisas, a tal senhora, dita ministra, já sabe isto tudo melhor do que eu. A intenção não é a de prevenir fogos, é a de aproveitar a oportunidade para sacar para a esfera pública o que público não é. Todos os pretextos são bons para babar ideologia, não é, dona Constança?
E a procissão ainda vai no portão do adro...
14.8.16