ESTUDOS
Os actuais tempos presenteiam-nos, dia sim dia sim, com toneladas de estudos, todos eles feitos por “entidades” altamente credíveis, versando as mais variadas matérias e apresentanto estatísticas formidáveis, esquemas, gráficos, argumentos, tudo devidamente rotulado de científico, académico, universitário...
Há estudos e estatísticas para tudo, da influência dos atacadores dos sapatos na travessia do deserto à permanência de atavismos alimentares na dieta dos esquimós, um nunca acabar de temas, de “descobertas”, de sugestões, de influências, de objectivos, de critérios.
Por exemplo, aqui há dias li no jornal que a sociedade comercial DECO, muito prestigiada entre nós, após profundíssimos inquéritos, chegou à conclusão que o supermercado Lidl era mais caro que o Continente, o Pingo Doce ou o Jumbo. Não ponho em causa a fiabiliadade destes estudos e destes estudiosos, ponho em causa a minha inteligência. É que não conheço vivalma que não ache que o Lidl é o mais barato de todos. Devo ser eu que percebo mal a coisa.
Outro estudo a que a minha inteligência não tem acesso é às conclusões, aparecidas em jornais e TV's, de uma tal Mercer, seja isso o que for. Após avaliar 375 cidades do mundo inteiro (é obra!), a dita Mercer chegou à conclusão que Lisboa é a 93ª cidade mais cara du orbe. Achei estranho. Uma tabela publicada nos jornais diz que, em Lisboa, um café custa 2,5 euros, um litro de água sem gás 85 cêntimos e que alugar um T2 sem mobília custa 2.000 euros por mês. Tratei de investigar. Fui à pastelaria da esquina, onde uma magnífica bica me custou, como é habitual, 70 cêntimos, sabendo eu que também as há, por toda a parte, a 60, ou 65. Depois, fui ao centro comercial aqui do bairro, onde verifiquei que o preço da água sem gás engarrafada anda entre o 20 e os 49 cêntimos. Dei então uma volta pela Net, à procura de T2 para alugar sem mobília. Encontrei um por 2.000 euros, mas tinha jaccuzi, 170 metros quadrados, num prédio de Luxo com vista de rio, a estrear. Os T2 mais normaizinhos andavam entre os 800 e os 1.500 euros, mais ou menos, tudo preços propostos e, como é obvio, sujeitos a oferta. Acresce ainda uma pequena verificação: um pão de 1Kg, fatiado, custa aqui na zona 1,2 euros,mas no estudo da tal Mercer, seja isso que for, custa nada menos que 2,91 euros, assim, com toda a precisão.
Quando tanto se fala em fake news e em verdades alternativas, aqui temos alguns exemplos deste novo e nobre vício. Ou então sou eu que não consigo perceber o alcance, a magnificência, a fiabilidade, os objectivos de certas organizações, que fazem, sem sombra de crítica, a delícia da chamada “informação”.
27.6.18