FALTA DE JUÍZO
Disse o razoável poeta e intolerável político Manuel (Alegre, pelo lado materno) que “nós, portugueses, devemos ser fiéis à Constituição da República”. Pois. Admito.
O problema é que, na mesma opiniosa manifestação, o caso aplica-se por cá, mas não se aplica em Espanha. Diz ele que os catalães, mesmo sem maioria sociológica ou eleitoral, têm todo o direito a exigir a independência, e a consegui-la. Borrifem-na Constituição Espanhola, mais democrática que a portuguesa mas, pelos vistos, menos digna de respeito. Que a mandem às urtigas. Os votos dos independentistas valem mais que os dos outros. Como por cá, ou pior, quem perde as eleições é que ganha, segundo os novos “democratas”, nos quais Alegre parece querer embarcar.
Imaginemos que, ao contrário do que aconteceu nestas eleições, os tipos da independência tinham tido mais votos que os outros. Antes de mais, foram eleições, querer transformá-las em plebiscito, ou referendo, é totalmente abusivo. Mas, mesmo que houvesse um referendo sobre este assunto, e os sececionistas ganhassem, que fazer aos espanhóis que quisessem continuar a sê-lo? Expulsava-se? Dava-se-lhes dupla nacionalidade? E se não quisessem ser só catalães? Eram degredados? Condenados à morte? Metidos num campo de concentração? Perdiam direitos políticos, senão outros também, na sua nova qualidade de “estrangeiros”?
As independências modernas, como as antigas, com raras excepções, ou se conquistam à cacetada, ou são fruto do colapso de quem domina, ou não ganham a jogada.
Um referendo para a independência? Talvez. Mas, nesse caso, a revolução só teria alguma validade se se pronunciasse por maioria “muito” qualificada. De outro modo, seria uma espécie de “brexit”, coisa que a ninguém nem a nada convém.
Dir-se-á que, se os catalães querem ser independentes, que o sejam, e paguem por isso o que houver a pagar, que não será pouco. Outros pagarão também, de tabela. Desejável, ou só estúpido?
Pobre Catalunha, entregue que parece estar a hordas de demagogos exploradores de sentimentos primitivos e de entusiasmos mal informados.
Mais grave, aparecem, um pouco por toda a parte, uns “alegres” a dar-lhes apoio em vez de recomendar juízo.
25.12.17