FIDELIDADES
I
- Já lá vão muitas décadas, a URSS iniciou uma prática altamente democrática, via manipulação da “informação” que propiciava aos seus “cidadãos” e ao mundo. Béria foi corrido (por cá dir-se-ia saneado) e, como por encanto, a sua entrada na enciclopédia soviética passou a ser ocupado pelo Mar de Bering. Genial. Nas fotografias do regime a trenebrosa fuça do infiel foi substituída por Molotov, ou outro de semelhante igualha. Este tipo de transparência viria a ser adoptado pelos bolchecistas, pelo menos até Gorbachev.
- Interessante é verificar que a orática deu frutos neste jardim. A dona Drago (em português “correcto” deveria ser Draga) fez xixi fora do bacio e saiu pela esquerda baixa. Em justa consequência de tal e tão desonroso procedimento, o BE fez um filme sobre os seus 15 anos de actividade onde a dona Draga não consta, quer na letra quer na música quer na imagem. Bem feita! Isto do bolchevismo tem as suas regras.
II
- Nos tempos em que o IRRITADO era um rapazola, meteram-no no Exército, e por lá andou uns quatro anos. Era assim. No Exército, aprendia-se coisa boas e coisas menos boas, até más. Das boas, constava o conceito de honra militar, a fidelidade ao que a Pátria era, uma ideia de disciplina, de respeito hierárquico, de espírito de serviço, etc. Estas coisas eram metidas na cabeça das pessoas por um corpo de oficiais profissionais que juraram, para além da fidelidade aos princípios que ensinavam, dar a vida, se necessário fosse, pela honra de servir.
- Hoje, quando uma Nação inteira (à excepção dos mais pobres) se sacrifica, sofre cortes em tudo e mais alguma coisa, paga mais impostos do que jamais pensou ser possível, tudo em nome da Pátria pela qual oficias prometeram dar a vida, tais oficiais nem um chavo querem dar, quanto mais a vida. Depois de teram jurado fidelidade ao poder civil, multiplicam-se em escapatórias, em gritos pelos seus direitos, privilégios e tratamentos de excepção, tanto ou mais que os mandantes da CGTP ou os maquinistas da CP. Qual disciplina, qual honra, qual espírito de serviço, qual quê! Somos mais que os outros e acabou-se. Não queriam mais nada? Respeitinho pela condição militar, ou seja, pelo tratamento de privilégio.
23.2.14
António Borges de Carvalho