FRAGILIDADES
Há para aí trinta nos, de tanto ouvir falar tive a fragilidade de ir ao “Frágil”. Uma experiência boa para esquecer. Mas não esqueci. Uma porta sebenta, um interior sebento e de gosto quiçá “progressista”, uma malta mais ou menos perdida em fragilidades diversas, uma fulana rotunda e grossa à porta, a deixar passar os que mereciam tal distinção. Não sei porquê, mereci-a. Ao som da adequada música (?), movimentavam-se uns seres mais ou menos diáfanos, outros com uma alegria de pedrada, porventura a esquecer deficiências de vária ordem.
Não era sítio para gente normal, gente como nós, a que os “locais” chamariam terríveis nomes, reaccionários, burgueses (como se outra coisa eles fossem) e outros mimos. Hoje, chamar-nos-iam neoliberais, homofóbicos ou outros adjectivos, todos eles significando terríveis pecados contra a moral a que os tempos chamam correcta.
Não arranjaste outro sítio para me levar? Perguntou a minha mulher, ansiosa por se ver livre daquilo. Deixa lá, bebemos um copo, vemos um bocado deste folclore e depois vamos a outro lado qualquer, impus.
Pedimos um whisky. Veio uma coisa que nem de Sacavém merecia o nome. Até o gelo devia ser falsificado ou “temperado”.
Pusemos os copos em cima do balcão e demos às de Vila Diogo, não sem apresentar as nossas despedidas à gorda da porta, que nos olhou com o mais profundo desprezo.
Mudaram os tempos. O “Frágil” deve ter fechado, eventualmente por já não ser suficientemente “progressista”.
Até que, simbolicamente, se tornou sede de mais um subproduto da esquerda folclórica: uma coisa chamada “Livre”, ao que parece destinada a manter no Parlamento Europeu um tipo que pôs os cornos ao Louçã.
A história repete-se. Os continuadores da malta do “Frágil”, talvez empenhados em dar à malta mais umas falsificações, deitam a cabecinha de fora. A zurrapa é a mesma. Quem gostar, beba. Não desejo bom proveito, que bom proveito é coisa que o “Livre” não proporcionará seja a quem for.
4.5.14
António Borges de Carvalho