FRUSTRAÇÕES
Aqui há uns anos, um fulano, possuído de indefectível esquerdismo, meteu-se em negócios com o arcediago Louçã, da seita do Beco, e sacou-lhe um lugarzinho no Parlamento Europeu. Depois de lá devidamente instalado, zangou-se com o padrinho e foi expulso do grupo do Beco, mas ficou com o taxito, a fim de se lançar em altas lides políticas. Ninguém sabe, mas teve por lá uma inesquecível actuação. Regressado, resolveu aproveitar a universal e brilhante imagem que tinha ganho, e lançar uma importantíssima organização, a que deu o nome de “Livre”.
Como era de calcular, a nova seita não vendeu nada a ninguém. O arcediago riu-se dele, e a criatura ficou a andar por aí. Como é de uso em casos desesperados, um jornal “de referência” contratou-o para propagandear as suas bocas, perdão, ideias, pelo menos três vezes por semana, tarefa que desempenha com assiduidade, dizem que contra uns tostões, o que é normal. Uma estação de TV, por seu lado, acolhe a sua triste verve, com mais dois artistas e muitos tweets, num programa semanal. Muito bem: é a luta contra o desemprego, nada a criticar. O homem auto-classifica-se como “historiador” e “fundador do Livre”. Faz lembrar aquele tipo que tinha no cartão de visita a designação de “antigo passageiro do paquete Funchal”. Não sei se o nosso historiador já tem historiado por aí, mas quem sou eu para entrar em tão académicas matérias? Quanto à fundação do “Livre”, seja lá isso o que for e se é que ainda existe, diz-se que é verdade. Não contesto.
O que me traz é o artigo que o historiador em causa publica hoje no “Público”. Não costumo ter pachorra para ler o que o homem escreve, mas desta vez não resisti. Ainda bem, já que há muito não me escangalhava a rir com tanto gosto. Em tremebunda diatribe, cheia de primárias raivinhas, o indivíduo revolta-se por ver o Dr. Santana Lopes e o seu “Aliança” tratados pelos media com algum destaque ou, como é natural, com mais destaque do que (diz ele) tinham consagrado ao seu bem amado “Livre”. O artigo espraia-se em acerbas crítcas ao líder do “Aliança”, que não tem nada para dizer, que significa zero, que foi toda a vida um zero, enfim uma série da adjectivos raivosos e com pouco sentido, já que, por exemplo, Santana tinha dado ao jornal uma entrevista carregada de ideias e propostas absolutamente novas na pasmada e vil tristeza em que a III República está mergulhada.
Nas almas pobres, a frustração, a desilusão, o falhanço, a inveja, o mau perder e outras qualidades do género são o pasto ideal para baixezas a que só vale o facto de ser ridículas.
Fica o registo.
11.2.19