GERINGONÇA SA
Adoptando um perfil empresarial de inspiração anglosaxónica, a Geringonça SA, firma de grande prestígio e influência, dispõe de um CEO, com o seu conselho executivo, e de um Chairman, assistido por um conselho sem competências outras que não sejam as próprias do Chairman. No caso vertente, o Chairman tem por função (que cumpre religiosamente) apoiar as decisões do CEO. É vê-lo, aliás, prestimoso e rápido, a coonestar o que o CEO decide, na presunção de que tal confere à Companhia estabilidade de gestão, coisa que considera como seu objectivo fulcral.
O pior é a Assembleia Geral. Sem mais nem menos, aparecem por lá uns accionistas rebeldes. Uns contestam as decisões do CEO ao mesmo tempo que dizem apoiá-lo, coisa estranha mas real. São os contestatários bons, que apoiam sem apoiar mas apoiando. Outros que, sendo contra o CEO e tendo contribuído para a eleição do Chairman, não estão pelos ajustes e resolveram votar como os apoiantes do primeiro, ora contestatários bons: são os contestatários maus, segundo os serviços competentes.
Instalada a confusão, o Chairman dá às de Vila Diogo, isto é, diz que não tem nada acrescentar, assim apoiando o CEO e condenando, mais uma vez, os contestatários maus, postura que vem constituindo, sem falhas, a sua assumida e primacial função.
Segundo alguns, a culpa da confusão é dos maus. Os bons, que são bons por natureza, contavam com o voto dos maus para fazer passar o que não queriam que passasse mas passaria e não causaria problemas, tal servindo de suporte às suas justas dúvidas. Outros, conhecidos por pedregulhos, penedos ou penedas, e também por mentes, mendes ou trolhas empresariais, acham que os maus se deviam submeter à vontade do CEO e do Chairman.
O CEO, que apareceu no Conselho Corporativo com decisões pré-estabelecidas e por isso impostas, contava com o ovo no interior da galinha, vendo-se agora traído pelos maus, que, é bom de ver, são maus por natureza. Enganou-se, coitadinho, quanto à maldade dos ditos, que era pior do que julgava. O mesmo se passou com o Chairman, vigoroso adepto do dictat do CEO no tal Conselho.
Os problemas de gestão da Geringonça SA, que são colossais mas têm sido magistralmente disfarçados pela propaganda do CEO e do Chairman, conhecem assim uma crise sem precedentes. Desta vez, ao contrário de tempos idos, nem sequer têm um Tribunal que lhes valha.
20.1.17