HÁ-DE SER O QUE CALHAR
Em matéria de política, há especialistas de futurologia com fartura. Já li que o vírus causará uma vaga de nacionalismo, como li que será uma oportunidade para que as nações aprendam a presar o multilateralismo, a união da Europa, a colaboração internacional.
Quem terá razão? Se calhar, ninguém. Depois da tempestade a bonança, tudo voltará a ser como era.
Uma coisa é certa: o vírus pôs à solta um oceano de oportunidades para opinar. O IRRITADO aproveita, faz o mesmo, dirão com alguma razão. Só que o IRRITADO não vem declarar a última e a mais certa das opiniões, vem dizer que não tem opinião nenhuma. Nem que o vírus vai unir, nem que vai desunir, nem que nem uma coisa nem outra.
É certo que, pelo menos na UE, a “solidariedade fundacional” funciona pouco, e mal. Cada um está entregue a si próprio, salve-se quem puder. Daí, há quem veja o fim da União, a somar à “razão” dos britânicos, dos catalães, dos populistas “nacionais”. A UE, dada a urgência, não trata nada com urgência. Eurobonds? Pois, mas. União bancária? Pois, mas. E por aí fora. Quem vai triunfar, os que se fecham ou os que querem unir-se mais ainda? Uma sociedade que se rege pelo critério da unanimidade pouco mais pode para além de encanar a perna à rã. Será que anda por aí algum líder capaz de tomar as rédeas? Se há, está escondido a mau recato. Parece que os pessimistas têm razão.
Mas há os outros, os que dizem exactamente o contrário, que o vírus, mais cedo que mais tarde, motivará uma onda de solidariedade europeia e universal que fará com que as pessoas prezem mais a concórdia e se tornem capazes de cerrar fileiras em face de um inimigo comum. O pior é que, sinais disto, para já, quem os dá são os chineses, sendo legítimo perguntar com que veladas intenções.
Enfim, esperemos, é o que há a fazer. Há-de ser o que calhar. Até lá, analistas não faltam, o que falta é juízo.
23.3.20