HOLLANDE II
Eis a grande questão: o Tripas (para usar a expressão de alguns “pivots” da TV) vai ser o segundo Hollande, ou não?
A pressa que o homem, nos últimos tempos, tem tido a pôr pachos quentes nas promessas aponta nesse sentido. Já percebeu que a realidade é uma coisa e os desejos outra. Por outro lado, como disse que a austeridade vai chegar ao fim, terá que explicar aos gregos onde vai buscar o dinheiro para acabar com ela. Aí, a porca começa a torcer o rabo.
Os gregos têm um estado “social” maravilhoso: reformas aos 50 anos, subsídios para tudo e mais alguma coisa, um sistema de saúde tão caro como miserável, etc.. A isto somam uma dívida monumental e um desemprego, caríssimo, de 25% da população activa. Desde sempre, têm o costume de não pagar impostos. A isto soma-se os Jogos Olímpicos, o novo aeroporto, autoestradas (ainda que longe das do Pinto de Sousa), campeonatos de futebol e outras inicitavas. A coisa, mais do que por cá, não podia deixar de dar o berro.
Tsipras vai começar por se deixar de exigências. Chegará a Bruxelas com “propostas”. É evidente que, por muita “abertura” que consiga, não poderá deixar de prometer acabar com a social-rebaldaria em que o país vive há décadas. Se quiser cumprir tal promessa, e receber mais massa e melhores prazos, que lhe acontecerá internamente? A malta aguentará durante uns tempos. Depois, desatará aos gritos: fomos enganados!, e lá virão, outra vez, a pancadaria e os coqueteis molotov.
Ou não? A dona Ângela, que já cedeu ao Draghi, comerá o feijão do Alexis? É pouco provável. Virá aí algum milagre? Isso de milagres não faz parte do jogo. Milagres, nem para o Tsipras nem para nós, nem para a Europa, que deixou de produzir e se abriu à feroz concorrência dos BRICS. Com Tsipras ou sem Tsipras, o futuro nada de bom augura. Pode haver tripas, mas não há feijão.
Ver-se-á se temos um novo Hollande, ou um novo Tsipras. Certo é que, com as promessas da campanha, como o colega, também não vai a lado nenhum.
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Para já, na nossa piolheira, temos esfusiante alegria da Martins, temos o PC que, para elogiar o Tsipras, até se esqueceu que os seus camaradas estalinistas levaram uma tunda dos diabos e, notável desenvolvimento, temos o Costa a querer apanhar o comboio. Vai ser uma viagem alucinante.
26.1.15
António Borges de Carvalho