HOMENAGEM A EUSÉBIO
Um rapazito moçambicano, à altura português, apareceu por aqui com jeito para dar uns chutos na bola. Transformou-se num jogador de excelência, diz-se que um dos melhores do mundo. No auge da fama, é levado aos EUA no âmbito de um contrato de exibições do seu clube, o Benfica. Tinha um joelho deitado abaixo. Mas as obrigações comerciais da trupe fizeram com que fosse obrigado a jogar. O joelho jamais recuperou e o nosso rapaz ficou com a carreira arruinada. Diz-se que passou, então, as passas do Algarve, levado que foi a vender electrodomésticos de porta em porta e a outras actividades de parco ou nenhum prestígio. Tinha família para sustentar, foi um mau bocado. Parece que, a páginas tantas, o clube caíu em si e, ou por amizade ou porque achou que o homem podia ser útil como uma espécie de mascote, deu-lhe o emprego que veio a ser seu até à morte, nas relações públicas corporativas. Tornou-se indispensável à imagem do clube – que até lhe ergueu uma estátua – e à do futebol nacional. Sempre simpático, colaborante e trabalhador, Eusébio foi vivendo. Até que, lá para os setenta, se finou.
A sua ida provocou enorme comoção. À excepção de Mário Soares, indivíduo sem escrúpulos nem qualidade, que lhe chamou bêbado, todo o país chorou. Puseram a estátua rodeada de oferendas mortuárias, dentro de uma redoma. Deram-lhe o nome de uma rua.
Até aqui tudo bem. Compreenda-se algum exagero. O pior é que a coisa não ficou pela lógica do sentimento. Entrou na política. E, quando um alarve qualquer resolveu propor, no Parlamento, que se lhe metesse o cadáver no Panteão da República, não houve um só deputado que levantasse a dúvida. Tudo minha gente votou a favor. Pudera! E os votos dos doentes do Benfica? Assim, Eusébio vai mesmo ocupar uma caixa no tal Panteão. Que noção tem esta gente do que seja um panteão é coisa que escapa à compreensão de quem pensar um bocadinho no assunto.
Declarações de interesse:
- O IRRITADO nada tem que lhe diminua a consideração, a admiração, a muita estima que tem pela memória do grande futebolista e bom cidadão que Eusébio foi;
- O IRRITADO presta a Eusébio a devida homenagem;
- O IRRITADO não é “adepto” do Panteão da República, onde repousa muita gente que bem poderia estar a fazer tijolo noutras paragens;
- O IRRITADO acha que razoável bom senso e um pouco de consciência cívica e cultural deveriam ter assento que se visse entre os “pais da Pátria”.
21.2.15
António Borges de Carvalho