IMPRESSÕES
Às vezes leio uns artigos no “Público”. Normalmente, não aguento até ao fim, percebo o sentido, e pronto.
Hoje, houve dois em que tive que esmiuçar mais um bocadinho. Esmiucei, esmiucei, e quanto mais esmiuçava menos percebia. Devo ser estúpido de todo. Ou não tanto, direi em meu abono.
- O primeiro artigo dedicava-se a explicar, com repenicados promenores, um caso levado dos diabos. Uma senhora deputada do PS tinha umas firmas, julgo que de sociedade com o pai. Não sei por que carga de água, tal senhora devia ter deixado de ter as firmas quando foi eleita, ou quando se candidatou. Facto é que o fez com uns meses de atraso. É de desculpar? Não sei. O que sei, ou seja, o que vem no jornal, é que, possivelmente a benefício de burocracias várias, a senhora fabricou um papel qualquer (de “conteúdo falso”, segundo viria a decretar a procuradora) em que dizia o contrário do que tinha feito. O caso foi para à PGR. A PGR, após rebuscadas e doutas reflexões técnico-jurídicas, achou que o assunto não tinha importância nenhuma. E pronto, assunto arrumado. O mais interessante vem a seguir: a papelada da senhora deputada, no fim de contas, destinava-se a uma candidatura a fundos europeus, para receber umas centenas de milhar para uns projectos que já estavam feitos e a funcionar há que tempos. A coisa parece que pode estar de acordo com as normas, desde que tais projectos estejam em curso, mas não acabados. Num dos projectos, faltava “efectuar uns arranjos na zona da barbecue”, bem como “adquirir algum mobiliário”. Noutro, parece que “faltavam umas prateleiras para acabar a zona de bar”, as quais custaram 1.559 euros. As facturas das prateleiras não foram apresentadas.
Bom. Encurtemos a história. Segundo entendi, pai e filha receberam pelo menos 277.000 euros, e, um dia, vão devolver, por meras questões “formais” (diz a procuradora), 169.875.
Além disso, imagine-se, foram condenados a pagar 1.000 euros a uma instituição. De resto, tudo OK. Não há nenhum problema. Arquive-se.
Aqui têm alguns dicas muito úteis, caso queiram pedir uns tostões à UE, com apoio do Estado, leia-se, do PS.
- Noutro artigo, um super ilustre economista do PS, com frequente presença no “Publico”, vem fazer uma demonstração filosófico-económica destinada, segundo entendi, a provar que as histórias do Novo Banco (entradas de dinheiro, vendas por preços baixos, etc.) provocam avultados prejuízos ao Estado e a todos nós.
É capaz de ser verdade. Não entrarei no complicadíssimo arrazoado de tão alta patente das nossa economia. Confesso a minha ignorância em tão especiosas e intricadas matérias.
Uma coisa, porém, me saltou à vista. É que o articulista deixou de fora o célebre contrato de venda do BES, subscrito e defendido pelo ilustríssimo ministro das finanças da altura, hoje não menos ilustre governador do Banco de Portugal.
Salta à vista que o artigo em causa tem por único fim tirar da chuva o cavalo do camarada Centeno. O resto é conversa propositadamente confusa. Para ser simpático, poderia dizer que, se calhar, não era essa a intenção. Mas não digo. A verdade, no meio disto tudo, é que as altas instâncias do PS resolveram nomear o senhor Ramalho, presidente do NB, bode expiatório das asneiras do altíssimo Centeno.
Como diria um trauliteiro do PS, quem com ele se mete, leva. Desta vez, com a prestimosa colaboração do BE e de montes de alarves.
14.9.20