“INFORMAÇÃO”
Na TV cá do sítio temos, que eu saiba, quatro canais no cabo, ditos de informação.
Nos últimos dois dias, literalmente, mais de metade do tempo dos telejornais desta pobre terra foi ocupada pela miserável história do Sporting. Ontem, tive a maquineta ligada entre as nove e a meia-noite. Em todos os tais canais, a história, repetida ad nauseam, foi manchete, primeira página, o mais importante dos assuntos nacionais e internacionais. Em média, os primeiros 37 minutos de tais jornais foram ocupados com a coisa. E até vi, num deles, um debate ser interrompido para se assistir em directo à saída do carro do sr. Bruno do estádio, sendo perseguido por uma câmara pela estrada fora. A harpia de serviço, solícita, pediu desculpa ao povo, não por ter interrompido o debate, mas por tal e tão importante reportagem ter sido interrompida por razões técnicas. Conclui-se que, se não fosse essa inconveniência, teríamos continuado a ver a traseira da viatura do homem e, quem sabe, a sua chegada a casa, os beijinhos da patroa e mais o que, de “importante”, resolvessem impingir-nos. Mais, a “Quadratura do Círculo” (forum de apaniguados da geringonça) foi adiada das onze para a uma, a fim de não prejudicar as transmissão das aventuras do sr. Bruno em tempo real!
Uma pessoa sente-se esmagada com esta trampa informativa. Esmagada, e triste. Estes vendedores de “notícias” regem-se, ao que se diz, pelas reacções das audiências, o que quer dizer que, se se transmite horas e horas da mesma miserável pessegada, é porque é disso que os espectadores gostam. Fico de rastos. Se a maioria prefere ver a mesma ordinarice horas a fio, então este país tem uma porcaria de gente. E se, como é o caso, a TV do Estado se comporta da mesma forma, então não há nenhuma alternativa, a burrice generalizada passa a oficial. Sempre fui, e sou, contra a existência de uma TV do Estado. Admito que, num caso destes, tal coisa pudesse ser útil, saindo da manada e das “regras” do mercado privado. Mas não. Alinha com os demais. Expliquem-me por que carga de água temos que pagar uma estação igual às outras.
Não nos iludamos. Isto vai continuar por dias, semanas ou meses. Isto vem sendo preparado, cientificamente, e desde há muito tempo. Há hordas de catedráticos da bola, todos os dias, na televisão. À falta de melhor (ou por encomenda), engalfinham-se, mais porrada e menos conversa. Para encher tempo, transmite-se cinquenta vezes a mesma jogada, e outras cinquenta noutro ângulo, para “esclarecer” o pagode. Todos os dias. Para comentar a jornada, para preparar a jornada, para intervalar a jornada, porque o Fosquinhas tem uma unha encravada, porque o Pinto da Costa tem nova “companheira”, por tudo e por nada. Todas as tardes, todas as noites. O Estado colabora. A miséria torna-se universal.
E não há nada a fazer. Nem sei para que é que escrevi isto. Verdade é que podia ter escrito o triplo, mas não vale a pena.
18.5.18