INQUALIFICÁVEL BANDALHEIRA
Não me parece que as últimas notícias do governo do PS se refiram a crimes de maior. No fundo, tudo não passa da mais normal, habitual e reiterada aplicação prática da triunfante moral republicana que anima e informa a organização. Estamos fartos deste género de pecados, não são surpresa para ninguém, nem sequer escandalizam uma sociedade que, sem a escolher, segue gente desta.
O que é grave, gravíssimo, é o repugnante comportamento do chamado primeiro ministro. Foi um dos redactores responsáveis pela lei que condena à demissão os autores dos pecados em causa. Dir-se-ia que é, salvo fabricada amnésia, interprete “autêntico” do que tal, bem ou mal, tal lei estabelece. Mas, coitado, à semelhança de muitos (todos?) os seus esquecidos áulicos e aliados, já não sabe bem o que nela escreveu, nem porque a terá, convictamente, votado. Mostrando a massa de que é feito, resolveu atirar para as costas de terceiros a “interpretação” do que nela escreveu. Coitado, a lei caiu-lhe em cima, e adoptou a única fuga que tinha à mão. Mais uma entre centenas de vezes, atirou o odioso para as costas de terceiros, mesmo quando o “terceiro” é o próprio, de todos o mais autêntico. Vale tudo, até descer ao mais profundo da indignidade, desta feita acompanhado pelo seu principal lacaio e serventual trauliteiro, um tal Santos Silva, que acha que isso de lei é coisa que, se não convier ao PS, não se aplica. Acresce que o “parecer” pedido à PGR é coisa que, com férias pelo meio, só cá estará fora na próxima legislatura, isto é, quando outra lei, menos inconveniente, já estiver em vigor. O que soma à falta de honra e dignidade uma cobardia sem nome.
Os responsáveis directos pelos pecados, a meu ver, não devem demitir-se. Quem deve demitir-se é o chamado primeiro-ministro, um fulano que, em qualquer país da Europa ocidental, já estaria na rua sem possibilidade de regresso.
Mas assim não é em Portugal. Somos um país tolerante, sem acessos de dignidade. Uma choldra.
1.8.19
ET. Depois de publicado este post, dei de caras com um discurso inacreditável, proferido por um tal Porfírio, na sede do PS. Em substância, diz o indivíduo que a lei, "que o PS cumpre sempre", deve ser "clarificada", ou seja, que deve ser interpretada da forma que mais interessar ao partido. O que a lei diz não interessa, a não ser que seja "interpretada de forma democrática". Este discurso (pode lê-lo no Observador) confirma o que o post diz. Obrigado, ó Porfírio!