INQUIETAÇÕES
Diz-se que a chuva de dinheiro que o BCE vai injectar se destina a reanimar a economia europeia. Há já larga cópia de teorias sobre o assunto, montanhas de prognósticos, fartura de futurologia, elogios, apupos, incertezas.
Admitamos que se trata de coisa boa: entra dinheiro barato nos bancos, vai haver mais financiamento, ou alavancagem, ou lá o que é. O IRRITADO deseja que assim seja. Mas duvida.
Entre nós o problema já não é o de haver ou não dinheiro para emprestar, mas o de não haver quem o queira. Há que tempos que os bancos anunciam milhões e mais milhões à disposição da economia, quer dizer, das empresas. Mas o crédito concedido é pouco. Porquê? Os juros são mais altos do que deviam? Talvez. O escrutínio das empresas é mais exigente? Sem dúvida. As empresas já estão tão endividadas que hesitam em endividar-se ainda mais num cenário europeu que não é atractivo? Pois é. A burocracia estatal ainda não deu volta que se visse? Evidente. Os tribunais continuam em marcha lenta? Toda a gente sabe.
Não há empresários? Há. Mas a esmagadora maioria são as tão incensadas pequenas e médias empresas que, cada uma, pouco significa no panorama geral, ainda menos no emprego. Os grandes empreendedores são, quase universalmente, alvo da maior das desconfianças: mamões, fascistas, tubarões, o diabo a quatro. Alguns têm fornecido achas para esta fogueira. Outros, causticados pela burocracia e pelos impostos, vão governar-se para outras paragens.
O Estado não investe? Pois não, era o que faltava. O país tem medo das iniciativas do Estado, por regra mal geridas e fundadas em colossais buracos e contratos marados. Em muitas matérias, mais se pode dizer que o Estado é (foi) mais parvo que os privados ladrões. Por outro lado, é evidente que, ou há investimento privado ou a economia não sai da cepa torta. Como por cá, dinheiro próprio é coisa pouca, a grande “esperança” estaria em grandes investimentos estrangeiros. Mas, para além da já referida burocracia, dos tribunais e de outros incentivos negativos, quem quer investir num país onde o PC domina os sindicatos e faz deles autênticas máquinas de destruição económica? Ir às privatizações é uma coisa, criar é outra.
É de temer que a massa do BCE vá direitinha para o consumo.
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Já agora:
Aqui há dias (o IRRITADO é insuspeito nesta matéria), uma menina do BE, por sinal engraçadinha (não, não é a chefe, é outra) disse coisas que vão no sentido das preocupações do IRRITADO. A miúda, ao que rezam as crónicas, tem origens numa qualquer versão da revolução socialista. Mas é tão inteligente que ainda acaba no PSD.
25.1.14
António Borges de Carvalho