INTERVALO
Tenho andado afastado das minhas irritadas lides, por razões que não vêm a propósito. As minhas desculpas.
Hoje há intervalo. Nada de irritações: não vou falar do chairman nem do CEO.
Deu-me na cabeça voltar à história do rapazito que ganhou o concurso das cantigas. A modinha era simples e bonita, a contrariar a tendência generalizada para o primitivismo musical, a parvoíce das letras e a exibição do pirosismo militante que por cá impera. No caso, se excluirmos o inacreditável pentado do petiz, podemos dizer que merece palmas, pelo menos por sair do comum, e sem mau gosto.
No entanto, mais que a sua performance e a da respectiva mana, o que me traz é o espanto pelo êxito que tiveram. É que estou habituado, farto, até ofendido (lá vêm as irritações) com o que por aí se chama música, com os chamados concertos, com os milhões de fulanos e fulanas capazes de passar horas, noites, dias, aos pulos e aos gritos perante a berraria de bandos de drogados, a exibir o agressivo mau gosto de umas vestimentas, ou despimentas, e o número astronómico de decibéis que dão cabo do cérebro de qualquer um. Raramente produzem coisa que possa, mesmo que por favor, merecer o nome de música.
Por tudo isto, é verdadeiramente espantoso que a cantiga tenha merecido a vitória, ainda por cima proveniente de "eleitorado" tão diverso .
Uma conclusão, para variar bem agradável: afinal ainda há, por essa Europa fora, muita gente que mantém o culto e o gosto por coisas que, sem ser primitivas, saiem da barulheira das NEPs da actualidade.
23.5.17
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