JUSTIÇA SOCIAL E CORTES
Muita gente pergunta, ou se pergunta, porque será que, para além das manifestações dos profissionais, amadores e apendizes das ditas, não há, que se veja, protestos dos verdadeiramente mais desfavorecidos. Com tantos génios das sociologias, das estatísticas, das politologias e das etc. que por aí vicejam e vão ganhando a vida com opiniões, estudos e manifestros, é de estranhar que do chamado povo, contrariando os fervorosos desejos dos mários soares, boasventuras, viriatros, pachecos & Cª, não se tenha visto nada de retumbante ou relevante. Porquê?
O IRRITADO, sem pretensões a ter achado a verdade, arrisca, talvez sem razão, algumas razões.
A primeira é que fome propriamante dita, daquela a sério, como muito bem dizia a dona Jonet aqui há dias, é coisa que não temos por cá.
A segunda é que a política de cortes e mais cortes tem poupado os que menos têm. A ferocidade do fisco e dos seus funcionários tem-se concentrado na classe média, que vai deixando de o ser mas ainda aguenta, como dizia o outro.
A terceira é que os géneros de primeira necessidade têm preços mais baixos e que a história do IVA a 23%, se é terrível em vários sectores, não atinge os que mais protestam (restauração, hotelaria, etc.), os quais mantêm, ou até baixam, os seus preços – ainda que muitos tenham passado a pagar impostos, coisa que não fazia parte da sua “filosofia”.
A quarta é que os reformados e pensionistas mais atacados são os das grandes reformas e pensões. Os demais também levam na cabeça, mas em percentagem menos insuportável. Interessante, nesta matéria, é que os mais virulentos ataques a tais cortes vêm dos reformados lá de cima (Cavaco, Ferreira Leite, generais, juízes e quejandos), não de quem sente o aperto por umas dezenas ou até centenas de euros.
Se compararmos os cortes portugueses com os gregos ou os irlandeses (as contas andam feitas por aí) verificamos que o governo português é, de todos, o que mais preocupações sociais tem tido. É evidente que não deixará de ser diariamente acusado do contrário, mas isso é timbre da generalidade dos nossos opinadores, bem como dos partidos socialistas e comunistas, para quem as contas, quando são más, óptimo, quando são boas não se conta com elas. Isto para não falar desse escol, principescamente pago, que é o Tribunal Constitucional.
7.4.14
António Borges de Carvalho