MAQUIAVEL DA REBOLEIRA
Assisti ontem a um dos espectáculos mais horripilantes dos últimos tempos. Num canal do cabo, foi entrevistada uma criatura digna de nota, um tal José Miguel Júdice, antigo ultra do Estado Novo (coisas da juventude), que chegou a fugaz líder do PSD, bastonário dos advogados, hoteleiro, apoiante do Costa, enfim, de tudo um pouco, uma data de coisas com que não vale a pena perder tempo.
A tese do homem é a da inutilidade política das ideias e, acima de tudo, da honestidade, da coerência, da urbanidade e da verdade. O que conta é ter, a cada momento, a noção clara das oportunidades, do que está a dar, do que tem atracção eleitoral, do que mais pode agradar às elites do partido. Princípios são uma inconveniência, uma coisa a esquecer. O poder é o poder e quem o quiser não pode estar prisioneiro de tais pinchavelhos.
A diferença entre Brutus e António Costa, disse Júdice, é que, tendo ambos assassinado o chefe, o primeiro não ficou com o poder de César, o segundo ficou com o de Seguro. Costa foi o melhor porque foi o mais esperto. Nisto da política, é o que conta. Costa fez-se ao poder. Perdeu as eleições mas deu a volta por cima, e aí é que está a verdadeira política. Costa sabia, diz Júdice, que fazer das tripas coração e aceitar a derrota o remetia para ignorada prateleira. Viu a oportunidade, atropelou e ganhou. Isso é que é um político!
Daí que Passos Coelho, que Júdice tem na conta de honesto, coerente, homem de princípios, se tenha deixado agarrar pela honestidade, pela coerência, pelos princípios, tudo coisas impróprias de um político que se preza. Não merece andar na política. Parece evidente, não parece?
Triste é que este tão ilustre opinador mais não faça que interpretar a verdadeira natureza da geringonça e dos seus adeptos. Tem até a vantagem de falar claro, dizer o que vai na alma dessa gente, sem rodeios, hesitações ou disfarces.
21.12.16