MEDO, INVEJA E POPULISMO
Vivemos de há muito dominados por avassaladoras ondas de inveja, coisa que suplanta qualquer sentido de justiça, qualquer réstia de bom senso, qualquer sombra de nobreza de sentimentos, e até os ditames das várias “filosofias” políticas em voga.
Dois casos exemplares têm ocupado as cabeças dos portugueses nas últimas semanas.
- Depois de muito tergiversar sobre a desgraça pública da TAP, o governo que, a meter os pés pelas mãos e a já não ter mãos onde caibam os pés nem pés onde caibam as mãos, assiste, bronco como é de timbre, ao romance dos prémios a que a francesa da TAP tem direito. O intragável PNSantos, perito em asneiras que têm custado muitos milhões ao Estado, teve como grandiosa atitude inventar a gestão privada de uma empresa pública - nacionalizada sem mais nem menos pelo próprio à ordem do chefe Costa e agora a saldo, a ver quem dá menos - , como se tal coisa funcionasse, em Portugal ou alhures. Ordenou que se fizesse uma selecção de estrelas da gestão, presumindo-se que tal selecção, feita por consagrados especialistas estrangeiros, tenha custado uma nota preta. Isso não está em causa. O que está em causa é o insuportável “escândalo” de a senhora seleccionada ter direito a prémios de gestão de dois milhões de euros por ter - para já, diz-se - atingido os resultados que constavam no seu contrato de trabalho. Levantou-se o clamor. A malta, que se vê à rasca para comprar batatas, foi rapidamente instrumentalizada pela esquerda para a excitação ultra-populista da inveja nacional. Dona Catarina ficou tremebunda de indignação. O tipo do PC (ainda não lhe decorei o nome nem estou para ir à procura) pôs as hostes a desfiar o cardápio do costume. O senhor Ventura, tratando-se de coisa que pode vir a dar, deu largas à verve. Os tipos da IL e do PSD não são capazes de vir a terreiro contradizê-los, de tal maneira a esquerda domina os “sentimentos” do pagode. Do pagode têm medo. Entre a inveja e o medo, venha o diabo e escolha.
- Na mesma onda, o palco, ou altar, ou lá o que é. O Moedas não se precatou, não pôs tudo às claras a seu tempo. A cáfila da esquerda caiu-lhe em cima. Ser honesto é coisa intolerável para a inveja da esquerda. Daí a monumental campanha de demolição do Moedas. Não interessa que o homem explique ter escolhido, entre várias projectos e custos, nem o mais caro nem o mais barato. O objectivo não é poupar dinheiro, é dar cabo do Moedas, que é o que os geringonços querem. Outros custos não interessam, só o que depende do Moedas. Pouco mais está em causa. Contra a inveja, de que vale explicar que a coisa vai dar lucro, de que vale argumentar que as Jornadas metem num chinelo a webbsummit e outras grandes realizações do Costa, com custos monumentais dificilmente recuperáveis. Não vale a pena argumentar com os estádios do Euro, caríssimos elefantes brancos, investimento irrecuperável. Ainda por cima, no caso, trata-se de acontecimento que tem a ver com a Igreja Católica! O que vale tal coisa comparada com a UEFA ou com o tipo da Webbsummit? Não interessa, nem por sombras, dizer verdades quando o populismo de esquerda (e de direita radical) a tudo sobrepõe a sua irreparável inveja. Pior, quando a direita moderada evita pronunciar-se. Mais uma vez o medo a juntar-se à inveja.
1.2.23