MEMÓRIAS
Às vezes, há coisas que nos irritam sobremaneira. Não que tenham importância, que façam alguma mossa, ou que mudem o curso dos acontecimentos.
No caso, só irritam o próprio, atingido na sua memória. Eu sei que a memória de cada um não serve para nada, já que, com o tempo que passa, se vai, se calhar, alterando. E diz a sabedoria popular que quem conta um conto junta-lhe um ponto.
Assim, começo por pedir desculpa aos leitores, primeiro por esta arenga mais ou menos idiota, depois por vir pôr em causa a memória de terceiros, no caso a da Sua Excelência o Presidente da República, conhecido nestas páginas por senhor de Belém.
Louvou ele a sua participação na revisão constitucional de 1982. Não precisava de tal coisa, mas a memória é uma chatice. O senhor, para além de uma boca aqui, uma boca ali, de um puxar de cordelinhos aqui outro ali (uma das suas especialidades) não participou em tal revisão. O IRRITADO, muito antes de ser IRRITADO, foi, em tempos que já lá vão, deputado. E, nessa qualidade, coube-lhe ser presidente da comissão de revisão constitucional, composta essa por mais de trinta deputados, sendo vice-presidente o célebre Almeida Santos, que já cá não está para testemunhar e que, se estivesse, testemunharia ou não, segundo as suas conveniências. Adiante. O que me traz é o meu testemunho. O deputado Marcelo Rebelo de Sousa, à altura secretário de Estado dos assuntos parlamentares, jamais integrou tal comissão e, se teve alguma influência no assunto, ninguém terá dado por isso. Por fora da comissão, moviam-se os senhores Mário Soares e Pinto Balsemão. O professor Marcelo não consta que andasse em tais andanças. À altura, não tive disso qualquer sinal.
Aceito que, agora, se venha gabar de ter feito o que não fez, sem que se perceba lá muito bem com que objectivo. Talvez se tenha movimentado em bastidores, mas terá sido tudo. Fica-lhe mal o auto elogio, mas há tanta coisa que lhe fica mal que, mais uma menos uma, qual é a importância?
21.5.20