MINISTERIAIS PRIVILÉGIOS
Segundo uma revista que há para aí, o ministro P. Lima e a ministra M.L. Albuquerque, ambos residentes no concelho de Cascais, terão querido fazer umas obritas lá em casa. Tanto um como o outro caíram na asneira de pedir licença à Câmara local. Se tivessem vindo perguntar ao IRRITADO, este, cidadão que se preza de ser irresponsável, tê-los-ia aconselhado a fazer as obras sem pedir licença nenhuma. Se a câmara viesse chatear, paciência, as obras estavam feitas e, mais papel menos papel, mais ano menos ano, ficava tudo nos conformes.
Dado que são membros do governo, terão sido ilegitimamente ajudados pela autarquia, no parecer da revista em causa e da oposição camarária. Assim, o P. Lima viu a sua pretensão autorizada em 541 dias (um ano e meio), enquanto a M.L. Albuquerque esperou 1.462 dias (quatro anos e dois dias). Acresce que o primeiro precisou de esclarecer cinco questões, sabe Deus com quantos papéis à mistura, tendo, à segunda, sido levantadas “pelos técnicos vinte e cinco questões”, com certeza com a obrigatoriedade de, pelo menos, uns cem papéis.
O IRRITADO, felizmente, não tem relações com a câmara de Cascais. Conhece a de Lisboa, à pala da qual tem sofrido e pago com língua de palmo as suas preocupações legalistas, o que justifica o conselho acima dado aos ilustres membros do governo.
Imagine-se que os cidadãos objecto da denúncia da revista pertenciam às gentes que, tendo nome, costumam ser tratadas, com desbragada falta de respeito, por “cidadãos anónimos”. O que lhes teria acontecido? Quantos anos teriam esperado pela licença da câmara? Oito? Dez? Nada que não seja a receita normalmente aplicada ao comum dos mortais pelas democráticas autoridades, seus “técnicos”, engenheiros, arquitectos, juristas, economistas, contabilistas, mangas de alpaca, contínuos, vereadores (vereadores é pouco provável, já que tais e tão altos senhores não têm por hábito descer à fala com a canalha),isto sem contar com o enxame de parasitas que circulam nestas áreas, os da Certiel, os da EPAL – no caso vertente o SMAS ou lá o que é -, os da certificação energética, os tipos que tratam do ruído, o Instituto da Soldadura e mais as “autoridades”, as “entidades”, as “comissões”, os tipos do património, os da classificação arquitectónica, os bombeiros, isto, é claro, se o infeliz não cair nas garras da Junta de Freguesia, da Assembleia Municipal, etc. e tal.
O IRRITADO junta-se, portanto, à revista que pôs a boca no trombone. Não há direito! Então um ministro espera só um ano e meio? Uma ministra espera só quatro anos e dois dias? O que é isto?
Privilégio! Ilegalidade! Falta de respeito pelo poder local democraticamente eleito! Quem sabe se corrupção?
Além de tudo o mais, o fantástico presidente da Câmara de Cascais já veio descansar as almas: vai fazer inquéritos, suspender, despedir, perseguir os culpados de tão curtos prazos de decisão e, se calhar, de coisas piores. Onde iriam parar as câmaras se os seus funcionários fossem sempre tão rápidos como o foram nos casos dos ministros? Despediam metade do pessoal? Ficavam com menos taxas? Que horrorosa perspectiva!
Acabar com os privilégios, e já! O povo é quem mais ordena.
6.12.14
António Borges de Carvalho