MISTÉRIOS
Nesta vida moderna, ele há mistérios insondáveis que o IRRITADO não consegue descortinar. Deve ser defeito meu, deficiências no QI, iliteracia, preguiça, o que queiram. Feito este esclarecimento, ou declaração de desinteresse como de diz agora de pernas para o ar, passemos ao que interessa.
Um por certo estimável senhor Neves, emigrado em Londres, arranjou uma catraca informática para vender artigos de luxo (na sua maioria coisas caríssimas que não valem um caracol) com a qual parece que conseguiu transformar-se num animal qualquer cujo nome me escapa, mas que é designação de uns macacões que, num ápice, passam a valer milhares de milhões. O senhor Neves vem sendo celebrado na imprensa como indivíduo riquíssimo, merecedor dos mais elevados encómios, estudos, opiniões, reportagens, etc. Isto porque, ombreando com Bill Gates e outros trutas, animais de calibre semelhante, resolveu dar dois terços da sua fortuna a uns fundos destinados a praticar o bem. É o que diz a publicidade mediática.
Tudo normal. O que causa impressão, ou incompreensão, pelo menos da parte dos ignorantes como eu, é que, no meio de generalizados louvores, se proclama que a organização do senhor Neves nunca teve lucros. Pelo contrário, de ano para ano vai averbando resultados negativos. Pergunto: se o homem perde dinheiro, como é que é multimilionário? Rouba a própria empresa em benefício pessoal? Talvez não. Diz quem sabe, ou acha que sabe, que a massa vem da “capitalização bolsista”. Venderá acções da sua empresa por preços astronómicos e embolsará o resultado? Talvez, o que quer dizer que, apesar dos prejuízos, há quem ache que tais acções são um bom investimento? Isso mesmo. Será? O IRRITADO, dadas as catacumbas em que passeia o seu primitivismo intelectual, tem dificuldades em perceber, ou seja, não percebe mesmo. Aqui há marosca. Qual?
Por outro lado, é estranho que o senhor Neves tenha dito que ia “disponibilizar” dois terços da sua fortuna para fazer casinhas em África, vacinar milhões e outras meritórias actividades. Mas não diz quanto. Diz é que vai fundar uns “fundos”, passa a redundância, fundos esses que gerirá, a bem da humanidade. Não se sabe se tais fundos serão contemplados com triliões ou com tostões. Os comentadores abalizados não esclarecem o povo a este respeito nem, reconheça-se, a respeito nenhum.
Não fico à espera de esclarecimentos. Não vale a pena. O que espero com ansiedade é que o senhor de Belém condecore o senhor Neves, pelo menos com um alto grau da Ordem do Infante. Um português de primeira que, como tem prejuízos, não paga impostos. E, se pagasse, pagaria em Londres.
O que me vai acontecer, pelo menos, é que me chamem burro velho, incapaz de aprender línguas. Que se lixe.
28.9.20