MISTÉRIOS DA ESTRADA
Três fulanos espetaram-se na 2ª Circular a 300 Km à hora, e foram desta para melhor. Uma tragédia, vários mistérios.
O primeiro mistério é o da “informação”. Casos do género, bem menos graves, merecem paragonas nas televisões, quem eram os defuntos, fotografias dos ditos, as mães, as primas, o vizinho do lado, tudo minha gente a dar a sua esclarecida opinião, vídeos do carro escaqueirado, do poste do outro lado da via, das operações de limpeza, etc., coisa para levar vários dias. Neste caso, porém, quase nada. Que eu saiba, tirando o Correio da Manhã e o Observador, zero. Mesmo estes, pouca coisa. Sobre quem eram os malogrados loucos do volante, pouco se sabe: uma fotografia de um, que parece, pelo nome e pela imagem, ser de um afro-brasileiro. Mia nada. Nos noticiários das TV’s, nada que eu visse. E é tudo. Não que eu queira saber mais, só que o comportamento dos jornalistas é estranho, por contraste com o habitual. Porquê este silêncio, tão pouco habitual, ou “normal”?
Quem eram os loucos? Onde tinham ido arranjar uma “bomba” daquelas? Como é possível arriscar assim a vida dos próprios e de terceiros? Não há respostas, nem investigações, nada que se veja.
Mais estranho ainda, dois dias depois do desastre, uma chusma de uns 200 indivíduos invadiu, de automóvel, a 2ª Circular, e parou o trânsito por largo tempo. Horas depois, foram gentilmente mandados embora pelas simpáticas “autoridades”. Ao que vinham? Vinham prestar homenagem às vítimas, uma espécie de romagem de saudade aos bravos rapazes e ao serviço que prestaram à comunidade e a si mesmos.
Esta demonstração de “civismo” vem, pelo menos, dizer-nos que os infelizes eram membros de uma comunidade de díscolos do volante. Parece que, à altura em que morreram, havia outras “bombas” a circular nos mesmos propósitos, carros, motos, uma grande organização. O que fez, ou faz, a polícia, tão ancha a multar pessoas normais que vão a 60 onde onde o limite é 50, tão competente com os seus radares, tão severa (ofensa grave!”) se você pisar o risco contínuo sem perigo nenhum? Nada, que se saiba. Aquilo não indicia uma horda organizada de malfeitores? Parece que não. Com a preciosa colaboração dos media, uma cortina de silêncio se abateu sobre o assunto.
A verdade será tão inconveniente que nada se possa dizer dela? Fica a pergunta, à qual o mais certo é não haver resposta.
24.2.20