MORAL REPUBLICANA
Tem passado mais ou menos despercebida uma “denúncia”, feita por um jornal electrónico, que diz que o Presidente Cavaco, quando deixar de o ser, terá o seu “gabinete de trabalho” num convento surripiado pelo Estado à Igreja no século XIX. Para o efeito, as instalações sofrerão obras de requalificação no valor de 475.000 euros. Ainda que a notícia não seja clara, é possível que tal verba seja também de 700.000. Aceitemos os 475.
A mesma notícia informa que a despesa relativa ao “sustento” dos três ex-presidentes vivos (Eanes, Soares e Sampaio) se cifra em cerca de um milhão por ano/cabeça.
O General Eanes, homem austero, alugou um andar na Av. Miguel Bombarda.
Mário Soares, imperial, senta-se num palacete da CML em condições que merecem referência. A CML “emprestou” o edifício a uma coisa chamada “Fundação Mário Soares”, cujo financiamento não é do domínio público mas que há quem diga ser, maioritariamente, do Estado. Como o gabinete do presidente da fundação Mário Soares (Mário Soares) não é do ex-Presidente da República (Mário Soares) a fundação aluga ao Estado as instalações de sua excelência seu presidente (Mário Soares) para alojar o ex-presidente da República (Mário Soares).
Mais importante ainda, o ex-presidente Sampaio – aquele do golpe de Estado, lembram-se? – fez, pela módica quantia de 750 mil euros, umas obrinhas no atelier de pintura da Rainha Senhora Dona Amélia, no remanso sombrio e fresco da Tapada das Necessidades, onde hoje dá largas às suas actividades por conta da ONU, actividades cujos resultados estão, infelizmente, à vista.
Ficamos assim com uma vaga noção do que custa a presidência da III República. Somemos o orçamento de Belém (o dobro ou mais dos custos públicos da Casa Real de Espanhola, por exemplo), os custos das campanhas eleitorais, das obras, da manutenção e, post-mortem, dos motoristas, dos adjuntos, do pessoal menor, etc., e teremos uma noção do que custa a chefia do Estado. Para quê? Para exercer, por excesso ou por defeito dependendo das opiniões, uns poderes que ninguém sabe exactamente o que sejam, nem se servem para alguma coisa.
Dá que pensar, não dá?
20.11.14
António Borges de Carvalho