MUTATIS MUTANDIS
O Senhor Costa, grande educador do povo e seu máximo dirigente, num natalício assomo de honestidade disse à gleba que “não alimente ilusões” quanto ao “progresso”. Atónita, a gleba duvidou. Então, este senhor, que anda vai para quatro anos a mostrar os dentes (ou a arreganhar a taxa – horribile visu -, como soe dizer-se), anunciando que tudo está melhor, que estamos a disfrutar de longo e firme caminho para a felicidade total, que a estabilidade governativa que conseguiu tem evidentes e brinhantíssimos resultados, que a sua extraordinária obra nos anuncia dias de resultados extraordinários e nunca antes vistos, vem agora decretar que o melhor é não alimentar ilusões e que o progresso pátrio não é de confiança?
Que lhe terá passado pela cabeça? Caíu na realidade, ou o tipo que lhe escreveu o discurso é um infiltrado da direita, ou do fascismo, a contradizer tudo o que antes afirmava? Não se sabe.
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Há uns cinquenta anos, contava-se que o chefe do governo, senhor Salazar, mandou chamar um humorista que tinha a mania de contar anedotas a seu respeito. Disse-lhe: como é possível que você faça anedotas sobre a minha pessoa? Eu, que construí estradas, pontes, hospitais, que endireitei as finanças, que acabei com o nalfabetismo...
Respondeu o piadético: Descupar-me-á Vossa Excelência, mas essa não é minha...
Mutatis mutandis...
26.12.18