NÃO HÁ NADA A FAZER
A água a rebentar por todos os lados, peixes a nadar no Rossio, rios por todas as ruas – não só na baixa, pela cidade fora – caves inundadas, prejuízos monumentais.
Sargetas entupidas, asfaltagens eleitorais a tapar escoamentos, passeios com pedras levantadas, tampas aos pulos, gente aflita.
O presidente da Câmara, inchado de razões, declara que não há nada a fazer, se chove muito chove muito, uma chatice.
Desde há quase dez anos há um plano, aprovado pela CML, para refazer a drenagem da cidade. Nada fez o senhor presidente, e com toda a razão, se “não há nada a fazer”, não se faz nada, não é?
O problema é que já se podia ter feito muita coisa. Se calhar, em vez das obras multimilionárias do Terreiro do Paço, do pátio da galé, da Ribeira das Naus, tudo coisas lindas – à excepção do pavimento do Terreiro do Paço – mas cuja prioridade é mais que discutível. Em relação ao sistema de drenagem nem devia haver discussão. Mas, qual imperador romano, ludis et circences, o senhor presidente prefere a Moda Lisboa, as bicicletas e outras martingalas que entretenham as massas. Bem visto! Que se lixem as inudações, habituem-se, aguentem-se!
A CML, afinal, aparte as bicicletas, não tem passado a vida a desperdiçar-nos o dinheiro? O inenerrável e pidesco vereador Fernandes não deu milhões de prejuízo com a sua ultra estúpida oposição ao túnel do Marquês? O mesmo indivíduo não arranjou uma estrangeirinha dos diabos para inviabilizar quelquer arranjo que roubasse o Parque Mayer e a Feira Popular ao reino dos ratos e das drogas? Não custa milhões aos munícipes, em atrasos, em processos, em advogados, tudo para impedir, entravar, estorvar, desde que o Fernandes faça os seus joguinhos? E não dá o senhor presidente cobertura a esta energúmeno, tornando-se, ou sendo, tão energúmeno quanto ele? Não foi o negócio do parque Mayer aprovado pelo PS? Foi! Mas os outros é que são os maus. Não foi o Fernandes, de sociedade com o Costa, quem promoveu a pretensão do camarada Jorge Coelho de fazer um monstro de contentores em Alcântara? Que mais preuízos causarão, que mais malfeitorias serão estes dois capazes da fazer à cidade?
Porque anda um homem honesto a ser perseguido pela Justiça por causa das queixinhas odientas do Fernandes, se mais não fez que propor o que pelo PS do presidente foi aprovado? A explicação talvez seja o facto de tal homem ter sido o autor do plano de drenagem da cidade, coisa que, com “não há nada a fazer”, também deve ter sido crime? Será? Será que descobriram que a drenagem era crime?
Enfim, alfacinhas, somos geridos por gente desta, gente que não devia merecer qualquer consideração ou apoio. Tal como na drenagem, também não haverá “nada a fazer”?
15.10.14
António Borges de Carvalho