NO MAR DA LATA
Há latas de conserva, coisa útil e boa, ainda que dependendo do que lhes põem dentro. Há latas óptimas para fazer assadores de castanhas. Há latas que, à falta de melhor, abrigam da chuva. Apesar do triunfo dos polímeros, ainda há latas insubstituíveis a vários títulos.
Vem isto a propósito das quantidades industriais de lata, da estanhada, que por aí andam em várias versões. Não estou a falar da enjoativa lata do Costa, que essa toda a gente conhece, cheira mal e suja tudo.
Ontem, ao assistir a um programa de RTP3 - bom canal, sim senhor, parabéns – veio-me à cabeça esta história da lata. O plantel de economistas presentes é composto por três socialistas e um PSD, o que desde logo causa alguma estranheza. Adiante. É suposto tratar-se de um programa meramente “técnico”, sem política pelo meio. E é-o, sobretudo para quem não está com muita atenção à coisa.
Demos isto de barato, que este post é sobre lata, não sobre teoria económica ou critérios de escolha da RTP3.
Um dos trutas do programa é um senhor muito feliz porque tem família, diz ele, e porque não está doente, diz ele, o que, de um ponto de vista macroeconómico, é interessantíssimo, como calculam. Além disso, trás ao programa sinais evidentes das toneladas de lata de que é feliz proprietário. Trata-se, como já devem ter percebido, do ilustríssimo economista Fernando Teixeira dos Santos.
Imagine quem me lê o que lhe aconteceria se tivesse sido, durante seis anos, ministro das finanças dos governos que nos levaram à ruína financeira, ao descrédito universal, à paralisia económica, à crise social. Imagine que os seus concidadãos olhavam para si e o viam na qualidade de avalista “técnico” de um aldrabão, mitómano, demagogo, ordinário – para dizer o menos – que nos levou onde chegámos. Imagine que tinha levado seis longos anos até perceber para onde íamos parar, só tendo reagido quando já não havia outra coisa a fazer senão pedir esmola. Imagine.
Que faria você? O mínimo seria meter-se em casa, bola baixa, deitar fora os espelhos, procurar seguir a sua vidinha com a devida discrição. Você saberia que, depois do que tinha feito, a última coisa que poderia avocar em seu favor era competência política e económica.
Mas Teixeira dos Santos não é você. Tem a lata de arranjar um tachinho na RTP para nos dar os seus avisados conselhos. Tem a lata de se achar com autoridade técnica, política e pessoal, como se os seis anos de socialismo socretino não lhe tenham obliterado toda e qualquer autoridade.
Grande latoeiro!
11.11.15