NO MAR DOS ENGANOS
Diz a propaganda oficial que “é preciso dizer a verdade aos portugueses”. Muito bem. O que não está nada bem é que não se diga a verdade aos portugueses. O que as “autoridades” dizem é todos os dias contraditado por quem anda no terreno. Aquele tipo de Ovar diz que o número de infectados é o dobro do anunciado. Os médicos, enfermeiros e demais profissionais dizem que não há isto, não há aquilo, falta quase tudo. Serão todos uma cambada de aldrabões? Não me parece. Então porque será que, oficialmente, se diz o contrário?
O chamado primeiro-ministro sossega as almas. Ele está em negociações, ele está a fazer encomendas, é possível que os materiais cheguem rapidamente. Muito bem. Só que todas estas declarações contradizem as outras. Então, se não falta nada, para quê as encomendas? Por que carga de água não se diz a verdade que se propagandeia como sendo “precisa”? Eu explico: porque é um vício, um hábito enraizado na comunicação do Estado. Tão habituado está a mentir, a dizer meias verdades, a interpretar tudo “à maneira”, que quando promete dizer a verdade já não consegue.
Pelo contrário, alimenta a mentira. Reparem: ontem, o chamado primeiro-ministro foi visitar um hospital, talvez o único onde, segundo o respectivo chefe, “não falta nada”. Talvez seja verdade. Ou será que o tal chefe é do PS? A pergunta é legítima. Se for verdade, então o governo aproveitou a excepção para dizer que é a regra. Se for mentira, não faz mal, é o costume. Os media, como sempre, colaboraram na jornada política, uma carrada de areia nos olhos do pessoal.
No fim de contas, se calhar, as “autoridades” têm razão. A estratégia está certa. É que, segundo uma sondagem artisticamente posta a correr, o prestígio público do primeiro-ministro subiu! Somos parvos, ou gostamos de ser aldrabados?
26.3.20