NOJO
Aqui há uns anos, um chamado Jorge Coelho demitiu-se do governo quando caiu uma ponte. Grande homem, disse-se. Não tinha culpa nenhuma, mas assumiu-a politicamente, com a dignidade dos melhores. A Pátria, grata, curvou-se perante tão digno senhor.
Também há os mal intencionados que dizem que o homem tinha uma jogada na manga (um tacho na administração de uma grande empresa privada), e que mais não fez que aproveitar os mortos da ponte para se pôr ao fresco e ir ganhar dinheirinho a “lobiar”. O que, aliás, se provou à saciedade.
Interpretações contraditórias mas, uma e outra, com a sua lógica. Talvez o assunto tenha ficado, ontem, esclarecido pelo próprio Coelho. É que, perante a prática reiterada de actos ilegítimos, inconstitucionais, ilegais, criminosos, atentatórios da dignidade dos cidadãos, cometidos à ordem da geringonça pelos empregados da geringonça, o Coelho produziu os mais ditirâmbicos louvores ao chefe dos criminosos. O magrinho das finanças é um tipo do melhor, limpinho, nada tem a ver com o que se passa sob a sua autoridade, merece a gratidão do povo. Até, imgine-se, teve a indómita coragam de mandar fazer um inquérito. Fantástico! Um herói, uma flor do nosso jardim!
Então ele, Coelho, demite-se por causa de um acontecimento em que não teve qualquer intervenção, e acha muito bem que os directamente responsáveis pelos crimes da AT/GNR – o secretário de Estado, o ministro, o primeiro-ministro - não só fiquem no poleiro como sejam objecto de reconhecimento e de elogios.
Meteria dó se não metesse nojo.
30.5.19