NOTÍCIAS DO PS
1. Parece que uma fulana, filiada no PS com as cotas em dia e membro de uma estrutura qualquer, resolveu denunciar um ror de aldrabices, de preparação de chapeladas, de filiados fantasma, de simpatizantes a peso e não sei de quantas mais trivialidades do processo de recenseamento em curso para as aldrabófonas eleições de um candidato a primeiro-ministro (não há candidatos primeiro-ministro no nosso sistema eleitoral!). Em consequência da indecente e por certo anti-“democrática” atitude da filiada, foi a dita prontamente expulsa da agremiação, julga-se que em processo sumário e expedito, sem investigar as acusações nem ouvir a queixosa/acusada.Em respeito pela mais profunda e arreigada moral republicana, a organização dá assim, aos portugueses em geral e aos filiados e simpatizantes em particular, a noção clara dos princípios que a animam.
2. O Costa, em mais uma repetição do que diz o Seguro, resolveu abrir a porta a negócios com o PSD. Mas, atenção!, com “outro PSD”. Elogie-se esta súbita abertura democrática, esta generosa cedência aos apelos do PR, esta demonstração de respeito pelo interesse nacional, esta vontade de compromisso. Um verdadeiro patriota, este Costa. Igualzinho ao outro. É claro, que, para que as coisas fiquem claras, o “candidato a primeiro-ministro” põe os pontos nos is. Primeiro, terá o PSD que se dissolver, que criar outro PSD, um PSD que compreenda, aceite e se submeta ao poder soberano do PS. Sem isso, como é natural, o Costa não alinha. Tal como o Seguro. Ficamos a saber que, primeiro, haverá que aceitar o poder imperial do primeiro-ministro do PS, depois se verá.
Há muitos anos, o embaixador da RDA convidou o autor destas linhas para um copo de detestável vinho branco lá na embaixada – um miserável pardieiro do tipo estalinista, ou africano, ali à Fonte Luminosa. Seria uma reunião a dois, sem protocolos nem notícias no jornal. Assim foi. Destinava-se o bate-papo a informar o convidado acerca do sistema político da RDA, sobretudo no que se refere ao respeito nela vigente pelo pluralismo democrático. Esclareceu que tinham por lá um partido democrata-cristão, e até havia liberais a dizer de sua justiça. Era pena, na opinião do tal embaixador, que “o Ocidente” não reconhecesse os escrúpulos democráticos do PC germânico de Leste e as amplas liberdades vigentes na progressiva república. Fiquei esclarecido. Aliás, já estava.
Aqui temos, bem clara, a filosofia que preside ao “pensamento” do Costa e do outro Oco: todos têm direito a existir desde que quem mande seja eu. Na certeza que os tolerarei - se se portarem bem, é bom de ver. Quem imaginaria que, vinte anos depois da morte da RDA, ainda há quem vá buscar o seu republicano exemplo.
À atenção do “eleitorado” em vias de fabricação.
20.7.14
António Borges de Carvalho