NÚMEROS E GUERRAS
Os números estão na moda. Não há quem não faça estatísticas, gráficos, curvas, ordenadas e abcissas, listas... nem quem não tire conclusões. Tantas certezas, tantos estudos, tantos académicos, tudo minha gente quer ver se demonstra coisas indiscutíveis. Os mesmos números servem para conclusões opostas. É o caso, por exemplo, do crescimento económico: para a geringonça estamos, gloriosamente, acima da média da UE; para as pessoas sérias, estamos na cauda dos que nos podem servir de bitola.
Às vezes, porém, há coisas indiscutíveis. Por exemplo, a classificação das escolas. As 32 melhores são todas privadas. Das cem primeiras, 66 são privadas. E assim por diante. A conclusão da geringonça é que as escolas privadas devem acabar, nem mais um tostão, nem um contrato, e os que há são para acabar. Para tal gente, zero! Quando os alunos forem todos igualmente ignorantes, aí teremos a igualdade, objectivo número um do verdadeiro socialismo! E as pessoas? Que se lixem as pessoas.
E as PPP da saúde, hem? Vamos mas é acabar com elas, professa a geringonça. Não interessa se funcionam bem ou mal, se dão lucro ou prejuízo ao Estado, se cumprem ou não os contratos. Se derem lucro, vamos a elas: as facturas do passado, mesmo conferidas e aceites pelo governo, não contam, vamos mas é sacar uns milhões a esses gajos, a ver se acabamos com eles. E, se pagamos a 300 dias, vamos passar a 600, quer a Europa queira quer não. As pessoas estão contentes com a gestão privada dos hospitais públicos? Que se lixem as pessoas. Socialismo é socialismo! Habituem-se, a brincadeira acabou.
No caso da ADSE, a coisa fia mais fino. Os donos da ADSE são os meninos bonitos do PS, os eleitores funcionários públicos. Mas a ADSE, um esquema parecido com os seguros privados, não pode ser bem vista pelo socialismo. Porquê? Porque é a irrefutável prova das preferências dos cidadãos. Os cidadãos que podem, não escolhem o SNS, como não escolhem os hospitais de gestão pública. A geringonça, cuja filosofia mandaria acabar com a ADSE, está num molho de bróculos. Quer dar um sinal verdadeiramente socialista, mas não tem para tal um bom pé. A solução é acabar com os privados, por definição os culpados de tudo e mais alguma coisa. Que fazer? Vamos começar uma guerrinha, pensaram os geringonços. O pior é que, nem os trabalhadores públicos querem acabar com o que, em matéria de saúde, os favorece, nem os prestadores de cuidados estão pelos ajustes. E agora? Mais uma vez, os malditos números favorecem o cancro que são os privados. Não importa. Lá chegaremos. As pessoas que se lixem. O socialismo vencerá. Lá dizia o Jerónimo: a vitória é difícil mas é nossa.
Conclusão: ou as pessoas acordam...
17.2.19