NUTRICIONISMO
Diz o povo que “quem nasce torto tarde ou nunca se endireita”. É verdade. Há tiques que trazemos do berço e de que não nos livramos para o resto da vida. Por ezemplo, há quem tenha horror às mentiras, mesmo que piedosas, e há quem pratique a mentira compulsivamente, quase sem dar por isso. Haverá muitos estados intermédios mas, quando se trata de tiques, não se aplica.
Na política é assim, como em tudo. Não se vive sem tiques. E há os tiques que se comunicam, normalmente de cima para baixo, impondo-se a quem com eles vive e tornando-se colectivos. É o que se passa por cá por cá, com este inacreditável governo. O “Expresso” reflecte (who else?) reiterados “esclarecimentos” do primeiro ministro sobre as célebres mentiras da austeridade que vai haver mas não vai haver. Não dá para perceber, mas não interessa. São tiques.
Obediente, o camarada Centeno insiste que vai haver um orçamento “suplementar”. Tal soe chamar-se orçamento rectificativo. É o que se chama fuga para a mentira. O tique é de tal maneira poderoso que, mesmo quando a mentira não é precisa, já que toda a gente sabe que não há outro remédio senão alterar o orçamento. Como, nos tempos da honestidade de Passos Coelho acontecia com os dictats de um Tribunal Constitucional - com maioria de juízes de esquerda. Nessa altura, por imposição externa (não parlamentar) rectificava-se o orçamento. Agora “suplementa-se”. É mais suave, inculca-se nas cabeças do pagode que o orçamento em vigor está certíssimo (mentira) e que não há que rectificá-lo (mentira).
O pagode vai comendo balelas há uns cinco anos, porque não há-de continuar com a mesma dieta? O nutricionismo está na moda, não é?
26.4.20