O CORDEIRO E O LOBO
Temos assistido de boca aberta à ausência de oposição à geringonça protagonizada por essa desgraça que aconteceu ao PSD chamada Rui Rio. Como manso cordeirinho, Rio foi acompanhando as tropelias e as pantominas do Costa com uma postura atenciosa e colaborante, tudo lhe perdoando sem uma palavra e quase tudo apoiando com os seus votos no parlamento. Estupefacto, o país foi amolecendo, ciente de que, não havendo oposição, a geringonça se manteria ad aeternum. Para quê resistir se aquele a quem mais competia fazê-lo estava em permanente falta de comparência?
Assim passaram seis anos.
Eis senão quando, o cordeiro se transforma em lobo. Porquê? Descobriu, finalmente, a sua função? Nem pensar. A transformação ficou a dever-se a meras razões pessoais, mascaradas de “defesa da democracia”, “interesse nacional” e outras coisas sérias transformadas em desonestas e mentirosas patacoadas. Ameaçado o seu poder no partido, assustado com a oportunidade estatutária para a expressão eleitoral de uma tomada de consciência dos filiados, bate-se contra um adversário legítimo em eleições legítimas, e antevê o seu consulado condenado a um fim pelo menos inglório. Defendendo o lugarzinho, usou e usa o que for preciso, esperneia, insulta, grita disparates, arrisca tudo, diz e faz o que pode para arruinar as hipóteses do adversário, faz declarações bombásticas, ataca o Presidente da República, o que lhe convier e lhe der na cabeça. Os escrúpulos, a democracia interna, tudo para o caixote do lixo. Ele, Rio, é coisa mais alta. O que tem medo de perder nas urnas, quer ganhar na secretaria. Ao ponto de, se perder para o adversário, querer guardar o poder de lhe cortar as pernas, dando cabo dele, do partido e do (nosso) futuro.
As fauces do lobo abriram-se, o cordeiro morreu. O adversário do lobo é o PSD, nunca foi, nem será, nem o PS ou a geringonça. Nem a esquerda, que é o que o Rio, como diz, traz no coração.
1.11.21