O MINISTRO E O SEU AVATAR
Sua Excelência Mário Nogueira, Ministro da Educação, antigo catedrático de trabalhos manuais nomeado para o governo pela CGTP à ordem do comité central, está muito contente com aquele rapazola de negra barba, seu avatar oficial, bem como com a funcionária que, na imagética oficial, substitui, com respeito pelas quotas sexuais, a Secretária de Estado apontada pela Bloca.
A prová-lo, a gravação* a seguir transcrita de um dos últimos diálogos travados entre Sua Excelência e o rapazola:
- Olá filho, bom dia!
- Como está Vossa Excelência?
- Bem, como sempre, aqui no meu gabinete da FENPROF, a olhar o Tejo, coisa deslumbrante...
- Em que posso ser útil a Vossa Excelência?
- Estava a pensar em alterar essa coisa dos exames... estás fazer muitas concessões... é preciso mais coerência!
- Sabe Vossa Excelência a contestação que tem havido.
- Isso é bom. Dá-lhes mais na touca. Já disseste lá na assembleia que quem manda és tu (em meu nome, claro), e fizeste muito bem. Agora, tens que continuar.
- Anda para aí uma confusão dos diabos.
- Aumenta-a! É para isso que aí estás. Tira os exames do 4º, passa para o 7º, ou para o nono, ou tudo ao contrário, não interessa, o que é preciso é que os tipos saibam quem manda e se habituem, tás a perceber?
- Com certeza, senhor Ministro, com certeza.
- Nessa dos colégios particulares, meu rapaz, estás a ser manso. A ordem é acabar com eles, com todos, o objectivo é estatizar a educação sem ficar nada de fora, percebes? Será que, como andaste lá pelas Ilhas Britânicas, ainda sofres de influências capitalistas?
- Dizem que há escolas particulares com qualidade e que as pessoas em muitos casos as preferem.
- Pois é por essas que deves começar! Quanto melhores mais merecem a morte, uma vez que podem contribuir para o descrédito do Estado, e nós somos o Estado, ou para lá caminhamos.
- Bem, se Vossa Excelência acha...
- Evidentemente. E tu, ou achas também, ou deixas de achar seja o que for, estás a perceber?
- Vossa Excelência desculpe, mas não foi minha intenção...
- Vê se metes isto na cabeça: nos colégios privados, os professores não são funcionários públicos. Podem ser avaliados e até ser despedidos quando não prestam. O mesmo se passa com as mulheres da limpeza, os contínuos, etecetera. Não vês isso? Não vês o que isso ofende a universalidade estatal, o que isso prejudica a unicidade da oferta educativa que, como tudo o resto na vida, tem que funcionar na órbita do Estado, tem que obedecer à CGTP, tem que estar enquadrado pela minha autoridade, pela do Arménio, do Jerónimo, do Comité? Não vês isso?
- Senhor Ministro, desculpe, mas o governo é do PS...
- Ai ai ai! Isso são formalismos fascizantes. O PS é um veículo, um cavalo que montamos para estender as nossas normas, afim de demonstrar ao povo que o melhor é entrar nos salutares mecanismos do centralismo democrático. Eles no PS até gostam de ser montados... vê como aplaudem as nossas reuniões.
- Com certeza, senhor Ministro.
- Oficialmente, passamos a reunir todos os trimestres, a fim de que toda a gente perceba quem manda mesmo. Não impede que estejas a todo o momento pronto para receber as minhas instruções.
- Com certeza, senhor Ministro.
- Estás contente? Olha que não é todos os dias que um chamado ministro é tratado por Ministro... com ordenadinho, carrinho, motoristazinho e tudo. Porreiro, não é?
- Sim senhor Ministro.
- Pronto, por hoje á tudo. Se te portares mal, faço três manifs, quatro greves, oito manifestos... e o Costa põe-te na rua. O problema é teu. Adeus.
- Adeus senhor... pling!
2.5.16
*Gravação efectuada por uma mosca tecnológica às ordens do IRRITADO.